Crítica: “A Casa Sombria”

Ter ingredientes válidos em mãos, nem sempre significa que os resultados obtidos serão os almejados. Mesmo fazendo uso de excelentes elementos, a aparente indecisão que permeia “A Casa Sombria” (The Night House) faz com que, ao término da exibição, o filme deixe uma sensação de que poderia ter entregado muito mais aos espectadores.

A trama dirigida por David Bruckner gira em torno da professora Beth (Rebecca Hall), que luta para recolocar sua rotina nos eixos, após o inesperado suicídio de seu marido Owen (Ewan Jonigkeit). As conhecidas – e pesarosas – etapas do luto são brilhantemente retratadas no roteiro de Ben Collins Luke Piotrowski, que tem neste ponto específico, seu maior trunfo.

Procurando uma razão que tornasse o fato menos arrebatador (se é que isso é possível), a protagonista passa a buscar qualquer tipo de conforto entre os objetos do marido, mas o que encontra é justamente o contrário, uma vez que descobre que Owen guardava segredos obscuros e perigosos.

Entre as revelações, uma que pode ser vista no trailer oficial do longa: a construção de uma casa que seria idêntica a que o casal morava, não fosse o fato de sua planta ser invertida – algo como se encarássemos o imóvel através de seu reflexo em um espelho. Esse será o cenário de uma das melhores sequências da produção, que, embora caminhe na estrada da previsibilidade, ainda consegue manter certo grau de surpresa.

Conforme a narrativa avança, mais nos vemos imersos não só na exploração de Beth, mas na opção por se seguir um roteiro que acaba perdendo parte de sua força ao não se decidir sobre o rumo que quer dar à história. Além do luto e da surpresa em perceber que o homem com quem foi casada por quase 15 anos não era exatamente o que ela imaginava, a personagem também é envolvida em situações que flertam com o sobrenatural, com misticismo e, até mesmo com distúrbios emocionais vindos de épocas passadas.

Tantas opções sendo consideradas em simultâneo culminam em um final que não só é aberto, mas é quase um convite à plateia para que cada um faça sua própria reflexão e encontre a explicação que mais lhe convier. Acredite: é possível chegar às mais diferentes conclusões, dependendo do viés pelo qual o espectador decidir enxergar a história – o que pode ser muito interessante para uns, mas também pode soar muito incômodo para quem prefere títulos que tenham um sentido mais absoluto.

O grande destaque do filme, como exaltado por seu material de divulgação, é mesmo a esplêndida atuação de Rebecca Hall que não tem nenhum momento de hesitação e faz com que entendamos toda a flutuação de sentimentos vividos por Beth. Também vale dizer que Sarah Goldberg, como Claire, e Vondie Curtis-Hall, como Mel – amiga e vizinho da protagonista, respectivamente -, cumprem bem seus papéis como coadjuvantes que têm seus momentos de importância.

Ainda que tenha sido vendida como uma obra de terror, “A Casa Sombria” funciona melhor quando a vemos sob a ótica do horror psicológico – aquele que, mesmo que não conte com sustos frequentes / gratuitos ou cenas explícitas, consegue intimidar.

por Angela Debellis

*Título assistido em Cabine de Imprensa promovida pela 20th Century Studios.

Filed in: Cinema

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