Crítica: “A Freira”

Talvez o maior pecado de “A Freira” (The Nun) seja a maneira como foi apresentado ao público, como “o capítulo mais tenebroso do Universo de Invocação do Mal”. Se visto como um filme solo, independente da franquia, ele pode até ser considerado um terror (bem) mediano. Mas, se a expectativa for por mais um bem-sucedido longa da série cinematográfica protagonizada por Lorraine (Vera Farmiga) e Ed Warren (Patrick Wilson), é provável que parte do público saia de alguma forma insatisfeita da sessão.

A trama – que ao contrário dos longas anteriores não tem base em fatos reais – se passa na Romênia, no ano de 1952, antes dos acontecimentos dos quatro títulos da franquia até aqui (Invocação do Mal, Invocação do Mal 2, Annabelle e Annabelle – A Criação do Mal). O palco da ação é uma antiga abadia / atual convento – cenário recriado em um castelo romeno de verdade, onde uma freira cometeu suicídio.

Para investigar as reais causas do fato, o Vaticano nomeia Padre Burke (Demian Bichir) – conhecido por seus rituais de exorcismo (nem sempre bem sucedidos, diga-se de passagem) e Irmã Irene (Taissa Farmiga) – jovem noviça que ainda não fez seus votos perpétuos. Caberá a eles conseguir dados e informações que levem à descoberta do que levou Irmã Victoria (Charlotte Hope) a cometer um dos atos mais condenáveis pela igreja católica: o atentado à própria vida.

A ajuda inesperada à dupla chega através de Frenchie (Jonas Bloquet), jovem entregador de mantimentos e quem encontrou o cadáver em frente ao portão principal do local. O personagem é o que chamamos de “alívio cômico” e detentor das frases mais divertidas (desnecessárias?) da produção. Algo como uma figura de filmes de terror de qualidade duvidosa, que transita com sua espingarda sempre a postos para dizimar qualquer perigo que cruzar seu caminho.

Com quase a totalidade das cenas passadas dentro do convento, é interessante perceber como, apesar da grandiosidade física do local, é nítida a sensação de sufoco que os personagens vivem, numa espiral claustrofóbica que implica o muito eficiente uso de sombras e a opção por cenas fechadas e closes.

E é justamente essa impressão de que estamos sendo acuados pelo escuro e pela perspectiva de cruzar com algo nada agradável a qualquer momento, o maior acerto do filme dirigido por Corin Hardy e escrito por Gary Dauberman com a colaboração de James Wan. Assim como uma das maiores falhas se dá quando o demônio Valak – na já conhecida forma da assustadora freira (Bonnie Aarons) – é posto às claras, no centro da ação.

Talvez a promessa de uma história aterrorizante (no sentido mais amplo da palavra), que mostrasse com mais detalhes a origem, poder e maldade da personagem – que tanto chamou a atenção em sua tão curta quanto intrigante aparição em “Invocação do Mal 2” – tenha tornado mais difícil a missão de encontrar o tom correto para agradar a maior parte dos espectadores. E a pouca profundidade do material apresentado, com respostas vagas (ou nulas) à maioria das dúvidas do público, deixa a sensação de que poderia ter sido uma experiência bem mais marcante.

Vale dizer que os momentos que remetem a “Invocação do Mal 2” são bem atrativos, mas que também só se tornam válidos para quem já assistiu aos filmes anteriores da franquia, se não, podem até mesmo passar batidos aos olhos de quem não acompanha a saga do casal Warren.

No final das contas, surpreendentemente, “A Freira” parece mais com um suspense de aventura do que com algo que possa ser classificado como terror clássico – apesar da presença constante de inúmeros clichês – eficientes ou não – do gênero.

por Angela Debellis

Filed in: Cinema

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