Crítica: “A Rota Selvagem”

“A Rota Selvagem” (Lean on Pete) é um filme dramático inspirado no livro homônimo de Willy Vlauti, dirigido por Andrew Haigh, estrelado por Charlie Plummer – que apesar do sobrenome, não é parente de Christopher Plummer – e que conta com a participação de Steve Buscemi.

Apesar do amor que sente pelo filho, o pai de Charlie Thompson (Plummer) é beberrão e mulherengo, pouco presente em sua vida. Para passar seus dias solitários nas férias de verão, o garoto consegue um emprego cuidando do cavalo Lean on Pete.

Porém após um acidente envolvendo seu pai ele parte à procura da tia – com quem não fala há anos, e sequer mora no mesmo estado – acompanhado pelo cavalo com quem começou a desenvolver amizade.

O drama  segue vários motivos comuns aos filmes de estradas, como o encontro com pessoas peculiares, a jornada por uma longa distância, e a criação/fortalecimento de um vínculo de proximidade durante esta. A grande diferença é que apenas metade do filme se passa na estrada propriamente dita, enquanto a segunda é feita a pé pelo deserto.

A jornada de Charlie não é apenas física, mas também psicológica. No começo da narrativa, apesar do pai relapso, o protagonista é de certa maneira inocente, e se incomoda ao descobrir o lado sinistro dos bastidores das corridas de cavalos, como os ilegais buzzers – aparelhos que dão choques nos animais para fazê-los correr mais rápidos – e o dopping, além do sacrifício de cavalos que não podem mais correr. Porém conforme sua jornada avança, e ele se vê em necessidade, não hesita em roubar, enganar, e até mesmo agredir para conseguir chegar a seu destino. Ao final da jornada, ele está destruído física e psicologicamente.

A atuação de Plummer como Charlie Thompson reflete bem essa decadência. Apesar do ator ainda ser jovem e ter coisas a melhorar, ele passa a sensação de confusão e de desespero do personagem. Steve Buscemi também faz bem o papel do treinador de cavalos canalha e trapaceiro, transmitindo o caráter cinzento do personagem. Travis Fimmel, apesar de pouco aparecer, traduz a essência do pai relapso, mas que ainda assim ama seu filho. E por fim Chloë Sevigny é a joqueta Bonnie, que traz às telas o lado inconformista, mas que aceita as injustiças para se manter, e a atriz está bem no papel. As atuações podem não ser material de Oscar, porém estão boas, e merecem destaques.

Na parte técnica o filme também merece ser elogiado, tem momentos de fotografia fantástica. A trilha sonora tem caráter pós-minimalista – movimento musical conhecido por instrumentações mais leves e por trabalhar com volumes mais baixos – dá certo tom de solidão à viagem de Charlie e Pete no deserto.

O grande problema de “A Rota Selvagem” é sua última meia hora. O longa se estende demais após um acontecimento marcante – que não posso falar por spoilers – que serviria de fechamento, e acaba prejudicando seu andamento – ainda que se encaixe na trama.

“A Rota Selvagem” é um drama interessante para se refletir sobre a natureza humana, e sua fragilidade perante as circunstancias adversas, mesmo quando estas se mostram resilientes. Recomendado para os apreciadores de dramas reflexivos, e para quem procura um road movie diferente do comum.

por Ícaro Marques – especial para A Toupeira

*A estreia oficial de “A Rota Selvagem” no Brasil está prevista para 15 de novembro, mas o filme será exibido durante a 42ª Mostra Internacional de Cinema em São Paulo.

Filed in: Cinema, Livros

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