Crítica: “Bacurau”

Vivemos um momento muito delicado em nosso país, expressões artísticas e culturais vêm sendo ameaçadas ou anuladas sempre que há uma brecha. Mesmo que a constituição de 1988 nos garanta que não há censura, não é preciso procurar muito para encontrar fatos que nos mostram o contrário, e “Bacurau” – um filme produzido por meio de políticas públicas de incentivo à cultura – chega para nos instigar a resistir.

Um vilarejo fictício – mas nem tanto – no sertão pernambucano, alguns anos a frente, isso mesmo no futuro, está sob ameaça. Não se sabe bem de quê ou porquê, mas Bacurau foi misteriosamente apagado do mapa e mortes misteriosas começam a acontecer, e é nesse momento que a população se mobiliza para enfrentar uma ameaça desconhecida.

Então Pacote (Thomaz Aquino) que é um assassino que está tentando se endireitar, recorre à ajuda de Lunga (Silvero Pereira), o personagem é um misto de justiceiro e terrorista, caçado pelas autoridades e amado pelo povo, como diversas figuras heroicas mundo afora.

Com direção e roteiro de Kleber Mendonça Filho e Juliano Dornelles, o longa conta com a participação de Sônia Braga, que faz a personagem Domingas, a médica do vilarejo, e por sua vez alcoólatra. Vale lembrar que eles já trabalharam juntos em outro sucesso, “Aquarius”, de 2016.

“Bacurau” dá voz e visibilidade ao povo do sertão, há uma população esquecida por seus governantes. O filme aponta e reforça a todo instante elementos da cultura nordestina, seja por meio do funeral de Dona Carmelita logo nas primeiras cenas, pelo “paredão” utilizado para divulgar as informações pela vila ou pelo sotaque, sabemos que ali é nordeste, terra de gente que não desiste.

A obra foi filmada no Sertão do Seridó, há um ano. As locações foram selecionadas depois que a equipe percorreu mais de onze mil quilômetros entre estados nordestinos, tudo isso acompanhado e vivenciado por Kleber e Juliano – o roteiro vem sendo desenvolvido desde o início da década.

O lançamento do longa-metragem foi na França, mais precisamente no Festival de Cannes, e logo de cara já conquistou o Prêmio do Júri. Também estava entre os cotados para representar o Brasil no Oscar.

Com elenco extraordinário e um roteiro envolvente, a produção revela sonhos e confronta nossas condições políticas atuais. “Bacurau” veio para abrilhantar ainda mais a cena cinematográfica nacional.

Vale muito prestigiar!

por Carla Mendes – especial para A Toupeira

Filed in: Cinema

You might like:

Crítica: “Instinto Materno” Crítica: “Instinto Materno”
Crítica: “Nada será como antes – A música do Clube da Esquina” Crítica: “Nada será como antes – A música do Clube da Esquina”
MIS celebra 40 anos de “Ghostbusters” com exposição inédita e gratuita MIS celebra 40 anos de “Ghostbusters” com exposição inédita e gratuita
Cine Marquise exibe trilogia “Batman: O Cavaleiro das Trevas” pelo selo Clássicos no Marquise Cine Marquise exibe trilogia “Batman: O Cavaleiro das Trevas” pelo selo Clássicos no Marquise
© AToupeira. All rights reserved. XHTML / CSS Valid.
Proudly designed by Theme Junkie.