Crítica: “Belle”

Embora eu tenha enorme apego às versões originais de obras que me são queridas, encaro com bons olhos quando se fazem releituras dignas delas. “Belle” é um desses surpreendentes / bem-vindos casos.

Escrito e dirigido por Mamoru Hosada, o anime evoca os elementos essenciais do clássico “A Bela e a Fera” para contar a história de Suzu (voz de Kaho Nakamura), jovem de 17 anos que vê sua vida mudar de forma radical quando a mãe morre tentando salvar uma criança do afogamento.

Vivendo apenas com o pai, a protagonista – que passa pela sempre complicada fase da adolescência, com direito a questionamentos sobre a própria aparência e amor platônico – deixa de lado seu dom para o canto e torna-se uma pessoa exageradamente introspectiva, cuja única amiga próxima é Hiroka (voz de Rira Ikuta), garota com grande habilidade para lidar com assuntos que envolvem tecnologia e que vai sugerir a entrada de Suzu no mundo de U.

A referida Comunidade de Internet conta com 5 bilhões de usuários e apresenta uma outra realidade, na qual, através de informações biométricas e compartilhamento corporal, é possível criar um avatar e “começar uma vida nova” com uma persona que engloba as principais qualidades do indivíduo em frente à tela do computador/celular.

É nesse cenário que Suzu se transforma em Bell (mais tarde chamada de Belle por sua legião de fãs) e reencontra a paixão pela música, logo reconhecida pelos demais usuários da plataforma que a transformam em uma espécie de superstar digital. E onde conhecerá o avatar nomeado como Dragão, cuja aparência bestial e atitudes violentas o fazem ser perseguido por quem deseja seu banimento do metaverso.

Se, a princípio, a narrativa parece ter como base fundamental apenas a história imortalizada pela versão animada da Disney lançada em 1991 (com a produção mais recente sendo o live-action de 2017, protagonizado por Emma Watson), é com grande sabedoria que utiliza outros simbolismos e transforma o estigma do “amor verdadeiro” em algo muito mais profundo, e até mesmo necessário aos dias atuais.

A disparidade entre os dois mundos é o que melhor dá a tônica à produção. Enquanto a rotina de Suzu é monótona – até mesmo nas cores usadas para representar suas atividades – o universo proposto por U é repleto de tons vibrantes, luzes e elementos chamativos. Diante deste quadro, parece mais fácil entender o porquê do fascínio que o virtual exerce sobre tantas pessoas hoje em dia.

“Belle” é incrível sob vários aspectos. Surpreende, encanta, emociona e faz pensar nos momentos certos. Tudo ao som de uma excelente trilha sonora – imprescindível para contar a história de uma personagem que tem na música um refúgio e uma paixão – e com um deslumbrante visual que sabe mesclar com maestria o uso do 2D e do 3D para criar empatia e profundidade.

Imperdível.

por Angela Debellis

*Título assistido em Cabine de Imprensa Virtual promovida pela Paris Filmes.

Filed in: Cinema

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