Crítica: “Casa Gucci”

Quem vê os luxuosos desfiles de moda de eventos ao redor do mundo, não imagina o que se passa além das passarelas. Assim como são poucos os que pensam no que há por trás da experiência de ver a delicada representação de uma bailarina como um cisne.

“Casa Gucci” (House of Gucci) não fala das sombras que rondam os bastidores, mas sobre o que acontece com a família que dá nome a uma das mais reconhecidas marcas do mercado. E nem tudo é glamour entre as paredes das mansões.

Baseado no livro homônimo de Sarah Gay Forden, a trama dirigida por Ridley Scott gira em torno dos fatos que culminaram no assassinato de Maurizio Gucci (Adam Driver) e na condenação a 29 anos de prisão de sua ex-esposa Patrizia Reggiani (Lady Gaga), tida como mandante do crime ocorrido em março de 1995.

Mesmo com 157 minutos de duração, o filme permanece na superfície, de onde controla o que, como e porque será mostrado, ainda que tome certa liberdade e altere, inclusive, datas dos acontecimentos – o que pode soar estranho, mas ajuda a manter o ritmo.

A narrativa começa em 1978, quando a jovem de classe média-alta, Patrizia Reggiani (Lady Gaga), filha do dono de uma empresa de caminhões, conhece aquele com quem iria se casar. Tal pretendente é o estudante de Direito, Maurizio Gucci, herdeiro direto de um dos maiores impérios da alta-costura, mas que não parece ter nenhum interesse no legado construído por seu avô Guccio e levado adiante por seu pai Rodolfo (Jeremy Irons) e por seu tio Aldo (Al Pacino).

Dando crédito à questionável afirmação de que os opostos se atraem, o casal decide ficar junto. Mas, a união não é bem vista pelo pai do noivo, o que faz com que o rapaz abra mão de uma vida luxuosa e repleta de benefícios, em prol de seu arrebatador relacionamento.

Uma das coisas que eu mais gosto em filmes com grande passagem de tempo, além das óbvias mudanças físicas dos personagens e ambientes ao redor (ainda mais quando se mostram décadas diferentes), são as nem sempre sutis alterações de comportamento.

Patrizia passa de uma jovem sonhadora (mas já com traços de ambição) a uma mulher que se vê progressivamente colocada de lado – tanto no âmbito profissional, quanto no pessoal – mesmo que seja clara sua visão para os negócios e sua intenção de manter o casamento.

Enquanto Maurizio se transforma em tela, e passa de um jovem tímido, um “pequeno camundongo” – como bem exemplifica seu primo Paolo (Jared Leto), a um homem cego por todos os benefícios que o dinheiro pode proporcionar.

Por falar em dinheiro, este é responsável por todas as ascensões e derrocadas da marca no mundo da moda. Com acusações de fraudes fiscais – que levaram Aldo Gucci à prisão – e propostas de venda de ações a empresários que não faziam parte da família, o que se vê nos bastidores é um jogo bem menos sedutor do que a ilusão vendida nas passarelas.

O grande destaque é o elenco estelar, cujas atuações engrandecem a narrativa escrita por Becky Johnston. De modo geral, tudo se encaixa: da sisudez de Jeremy Irons, como o empresário Rodolfo que sabe (mas não assume) que tem problemas graves envolvendo seu nome, ao “exagero na medida certa” de Jared Leto, que torna a frustração de Paolo quase palpável.

Passando pelo Aldo repleto de facetas bem interpretadas por Al Pacino. Com pouco tempo em cena, Salma Hayek (que dá vida à Pina Auriemma, uma “vidente” que auxilia no planejamento do assassinato) também faz um bom trabalho.

Lady Gaga e Adam Driver mostram uma química perfeita, seja como o casal que parece acreditar na chance de levar uma vida feliz ou como aqueles que se tornam quase estranhos ao discutir divórcio e guarda compartilhada.

Para fechar, figurinos (obviamente) impecáveis e ótima trilha sonora (que vai de clássicos italianos a “Heart of Glass”, de Blondie). “Casa Gucci” entrega, nas palavras da autora Sarah Gay Forden, “uma história de ganância, poder, loucura e morte”. Tudo sem perder a pose ou descer do salto.

por Angela Debellis

*Título assistido em Cabine de Imprensa promovida pela Universal Pictures.

Filed in: Cinema

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