Crítica: “Em Busca do Portal Mágico”

Recorrer à imaginação pode ser um subterfúgio muito eficaz em vários momentos no decorrer de nossas trajetórias. Com mais facilidade para se deixar envolver por elementos que, com o passar dos anos, para muitos vão perdendo a força – devido à rudeza imposta pela avida adulta – no geral, as crianças são as maiores beneficiárias de tal atitude.

“Em Busca do Portal Mágico” (The Day Of Chocolate / Dzien czekolady) parece, à primeira vista, mais um filme que trata sobre a quase infinita capacidade criativa dos seres humanos, com direito a personagens que habitam um mundo à parte, localizado no interior de um relógio antigo, artigo quase esquecido em um porão.

Mas, com o desenrolar da narrativa, e, quanto mais conhecemos a jovem dupla de protagonistas Monika (Julia Odzimek) e Dawid (Leo Stubbs), mais percebemos que há certa profundidade escondida nas entrelinhas do roteiro de Jacek Piotr Blawut (que também está à frente da direção) e Anna Onichimowska (autora da obra original na qual o longa se baseia). Mais do que fugir de contratempos infantis, as crianças estão de frente com um assunto tocante e inevitável: o luto.

Cada um à sua maneira, os dois convivem com as lembranças de entes queridos que partiram e que deixaram para trás toda uma história de amor e cumplicidade com sua família. E a tal “fuga da realidade”, por vezes se dá de maneira literal, com tentativas impensadas de reencontrar aqueles que deixaram um buraco em seus corações.

A amizade das crianças começa tímida, quando Monika se muda para uma casa próxima a de David. Inicialmente receosa, a garota passa a confiar no vizinho e a dividir lembranças, medos e incertezas com ele – talvez por sentir que o fato do menino também estar sofrendo com a falta de alguém, o aproxima dela.

Algumas cenas da produção de fantasia polonesa tem um ritmo mais lento, mas é justamente quando se torna possível admirar a bonita paleta de cores de uma época em que montes de folhas secas nos quintais dão um tom bucólico que transita entre tristonho e seguro.

O uso frequente de closes cria certa cumplicidade entre os personagens e o público, o que é muito importante para que o espectador se afeiçoe às crianças e entenda algumas atitudes que poderiam parecer exageradas – principalmente, no que diz respeito a recorrer a terapeutas para lidar com traumas e perdas.

Ainda que seja um filme simples – visual ou textualmente – “Em Busca do Portal Mágico” carrega consigo uma lição importante que muitos quando adultos esquecem. Mas, enquanto vivos, sempre há tempo de rever atitudes e repensar no que realmente importa no final das contas.

A produção pode ser adquirida para aluguel e compra no NOW, Looke, Vivo Play, Google Play, Microsoft e iTunes.

por Angela Debellis

*Título assistido via streaming, a convite da A2 Filmes.

Filed in: BD, DVD, Digital

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