O que torna alguém especial? Esta é a pergunta que serve de base para o enredo de “Encanto” (Encanto), nova produção da Disney Animation Studios que chega aos cinemas e cumpre, lindamente, a missão de encantar o público.
A história passada na Colômbia nos apresenta a carismática família Madrigal, que, há duas gerações, abençoa todos seus integrantes com o que chamam de “Dom”. Todos, menos Mirabel (voz de Stephanie Beatriz, na versão original), a jovem protagonista que, embora ame seus familiares, não consegue deixar de se sentir deslocada por sua “normalidade” diante de tantas maravilhas.
Os personagens vivem em uma espécie de vilarejo encantado, onde suas peculiaridades não só são tratadas com naturalidade pelos demais habitantes, como são consideradas verdadeiros milagres que devem ser celebrados por sua grande ajuda nas tarefas cotidianas do local. Quem dera o que nos parece “diferente” fosse visto assim na vida real também.
Há cinquenta anos vivendo em uma casa carregada de magia em cada elemento de sua construção, “Abuela” Alma (voz de María Cecilia Botero) é a matriarca dos Madrigal e, como seu próprio nome indica, é o eixo ao redor do qual gira a rotina da família. E é principalmente sua aprovação que Mirabel busca, sem sucesso, desde que, sem explicação, não foi agraciada com nenhum dom ao completar cinco anos (idade em que as crianças têm suas habilidades despertadas durante uma belíssima cerimônia).
Mas, quando toda a magia é posta em perigo – o que é mostrado na forma de avarias físicas na residência e na perda gradual das habilidades de seus membros -, caberá à garota tentar descobrir como salvar tudo e todos que lhe são caros, mesmo que para isso só possa contar consigo mesma.
Ainda que pareça bastante simples – e talvez até óbvio em muitos momentos – o roteiro de Jared Bush e Charise Castro Smith (que também assumem a direção ao lado de Byron Howard) é impecável ao passar uma mensagem que, mais do que nunca se faz fundamental em dias atuais, quando números, visualizações e popularidade em redes sociais tomam o lugar da magia e tentam nos limitar: jamais devemos nos esquecer de que somos únicos e importantes.
Não seria justo direcionar o protagonismo apenas à Mirabel, já que a maioria dos personagens têm seus bons momentos individuais em tela. Como destaque, os musicais repletos de significado de Isabela (voz de Diane Guerrero), que sofre com a incessante cobrança – sua e dos outros – por uma inatingível perfeição; e Luisa (voz de Jessica Darrow), cuja força física é proporcional à preocupação que sente em ter sempre que atender às necessidades dos que a cercam, antes de pensar em si própria.
Desde as cenas iniciais, já é fácil se identificar com as figuras em tela. Seja através do fascinante visual, ou graças a mais uma excelente trilha sonora composta por Lin-Manuel Miranda (que, novamente, consegue a façanha de fazer o público seguir cantarolando pelo menos uma das canções originais do longa, ao término da exibição), “Encanto” é aquele tipo de produção que nos faz sentir que, mesmo quando as coisas parecerem perdidas, ainda valerá a pena lutar pelo que se acredita e por quem se ama.
Saí da sala de cinema com o coração leve, querendo ser amiga dos Madrigal – em especial de Mirabel e seu pequeno primo Antônio (cujo dom de entender os animais, foi o que mais me cativou) – e sonhando em ter uma capivara tão expressiva quanto a mostrada na animação.
Encantadoramente imperdível.
por Angela Debellis
*Título assistido em Cabine de Imprensa promovida pela Disney Studios.
