Crítica: “Espírito de Família”

A partir do momento em que vivemos em sociedade, torna-se muito provável (para não dizer inevitável) o fato de que perdas farão parte de nossa história. O impacto que isso exercerá é variável, o que não significa que cada uma não tenha sua parcela de importância – facilmente reconhecida ou que precise de tempo para ser aceita.

A trama de “Espírito de Família” (L’esprit de Famille) gira em torno das relações familiares de Alexandre (Gullaume de Tonquédec), homem de meia idade que tem em sua profissão de escritor uma espécie de válvula de escape para fugir de uma realidade que não lhe parece tão aprazível, embora tenha pessoas que o amam ao seu redor.

Com o súbito falecimento de seu pai Jacques (François Berléand), Alexandre se vê diante de situações com as quais não consegue lidar, como o desejo de sua mãe Marguerite (Josiane Balasko) de vender a casa onde morou por três décadas com o marido e os filhos, a intenção de sua esposa Roxane (Isabelle Carré) de se divorciar dele e a pouca intimidade que tem para manter uma simples conversa com seu filho Max (Jules Gauzelin) – dificuldade essa, aliás, vista em uma cena de pura sensibilidade, ao som de “Father and Son”, clássico setentista de Cat Stevens, cuja letra basta para passar a emoção necessária.

O longa francês escrito e dirigido por Éric Bernard poderia enveredar facilmente para o drama puro, mas houve a ótima opção em concebê-lo como uma comédia dramática, o que significa que, embora bastante emotivo, também conta com elementos que conseguem fazer o público sorrir.

Um desses itens surge na forma de uma inesperada e muito válida descoberta de Alexandre: ele pode conversar e interagir com seu falecido pai – tal fato só é compartilhado pela dupla, nenhum outro personagem participa dessa ação.

E é justamente através desse novo relacionamento que os dois vão trazer fatos do passado à tona, que interferiram diretamente na fria relação que tinham quando Jacques era vivo. A proximidade deles, agora que a morte os separou, não deixa de ser um triste e bem executado paradoxo.

O roteiro de “Espírito de Família” é simples, mas ajustado de maneira competente. Embora relações familiares conflitantes não sejam nenhuma novidade em filmes, ainda parece existir uma vasta gama a se utilizar para a criação de histórias que fazem o público chorar, rir e até mesmo repensar seu próprio convívio com aqueles que lhe são caros – sejam parentes ou não.

Vale conferir. Disponível nas plataformas digitais para aluguel e compra, com cópias nas versões dublada e legendada.

por Angela Debellis

*Título assistido via streaming, a convite da A2 Filmes

Filed in: BD, DVD, Digital

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