Crítica: “Extraordinário”

Baseado no best-seller homônimo de R. J. Palacio, publicado em 2012, e dirigido por Stephen Chbosky, “Extraordinário” (Wonder) poderia ser “apenas mais um filme” cujo apelo dramático acaba se tornando maior do que qualquer outro fator. Mas, dentro de sua aparente simplicidade, é muito mais do que isso.

O protagonista é August Pullman (Jacob Tremblay, mais uma vez arrancando lágrimas e aplausos), ou apenas Auggie, portador da Síndrome Treacher Collins, uma rara condição hereditária que faz com que seu rosto apresente inúmeras deformidades (além de problemas funcionais, como perda crescente da audição).

Visando o bem-estar e segurança do filho, o casal Isabel (Julia Roberts) e Nate (Owen Wilson) decide por uma primeira educação domiciliar, com a mãe fazendo as vezes de professora. Mas com os agora 10 anos completos, chegou a hora do menino encarar mais um desafio em sua vida: a escola e todas as consequências – boas e más – que a convivência com outras crianças poderá trazer.

É aí que começam os maiores acertos da história. Apesar de todas as óbvias implicações que a síndrome e seus limitadores trazem a Auggie, ele não é apenas uma vítima da situação. É alguém que consegue rir de si mesmo, que mantém intacta a capacidade de amar as pessoas que o cercam e acredita que, mesmo em tempos nada promissores, a gentileza ainda pode ser uma das molas propulsoras do mundo.

Claro que o protagonista passa por vários momentos de incerteza, pois mesmo sendo tão jovem e depois de já ter sido submetido a 27 cirurgias desde seu nascimento, está longe de uma recuperação real. Mas o que o difere da maioria é que esse fato não o impede de continuar em frente.

A narrativa segue a linha adotada no livro, de contar a trajetória do menino através dos olhos de vários personagens, o que dá uma dimensão mais clara de como os fatos afetam a cada um:  Da irmã mais velha, Via (Izabela Vidovic, em atuação impecável) – que teve que aprender desde cedo a aceitar o fato de que a atenção a ela devida, seria redirecionada a seu frágil irmão caçula – a Jack Will (Noah Jupe), que, entre dúvidas e decisões se tornará o primeiro amigo de Auggie em sua passagem pela escola.

Todos os coadjuvantes assumem uma função importante em algum momento, mas dois merecem destaque: Sr. Browne (Daveed Diggs), que através de preceitos passados mensalmente a seus alunos, consegue mostrar a importância de coisas triviais à primeira vista, mas que são fundamentais para todos; e a mãe de Isabel (papel de Sônia Braga), que em uma única cena prova que uma simples declaração pode fazer toda a diferença na vida de alguém. Sem contar a pequena Daisy – basta saber que ela é a adorável cachorrinha dos Pulmann.

Há tantas coisas maravilhosas na produção, que seria quase impossível enumerá-las. A química dos atores que entregam um núcleo familiar que se mantém unido apesar das dificuldades, a imaginação de Auggie, que faz com que o vejamos flutuar como um verdadeiro astronauta e até mesmo interagir com Chewbacca da franquia “Star Wars”, as mudanças que a aceitação e o respeito promovem na vida das pessoas.

Quem leu o livro vai ficar encantado com a qualidade de sua adaptação para as telas – as alterações, além de mínimas, em nada influenciam; além disso, o uso literal de trechos vistos no papel é um verdadeiro presente para quem gosta do texto original. Para os que ainda não conhecem a obra, fica a dica de ir ao cinema de braços e corações abertos, para assistir a uma das histórias mais bacanas e emocionantes dos últimos tempos.

Imperdível.

por Angela Debellis

Filed in: Cinema

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