Crítica: “Han Solo: Uma História Star Wars”

Quando Harrison Ford surgiu pela primeira vez na pele de Han Solo, no longínquo ano de 1977, eu ainda não tinha consciência o suficiente para entender a grandeza do que estava vendo. Mais do que uma saga que ganharia contornos tão poderosos e aclamados por uma sempre crescente legião de fãs – que se renova a cada geração, há mais de 40 anos – aquele era o início de um amor cinematográfico que carrego no coração até hoje.

Então, como grande fã do personagem, confesso que não soube o que sentir quando foi anunciado que ele ganharia um filme próprio. Com Ford algumas décadas mais velho – assim como todos que conheceram seu trabalho na década de 1970 – ficava clara a necessidade de se encontrar um novo intérprete para contar a começo da história do contrabandista mais charmoso da cultura pop.

A escolha de Alden Ehrenreich para o papel me pareceu, no mínimo, equivocada. Não por sua capacidade de interpretação ou por sua óbvia ânsia em dar o seu melhor a fim de honrar tal oportunidade, mas simplesmente porque ao olhar para o ator, eu não conseguia enxergar o Han, aquele que conquistou o coração não só da Princesa Leia, mas também o meu.

Eis que chegou o momento de assistir a “Han Solo – Uma História Star Wars” (Solo – A Star Wars History) e eu o fiz com a mente mais aberta que me foi possível. Porque sabia que o longa apresentaria elementos naturalmente incríveis, que fariam valer a pena passar 135 minutos em frente à tela, numa nova viagem a uma galáxia muito, muito distante.

E foi assim que vi o primeiro encontro do protagonista com aquele que seria seu melhor amigo a partir daquele momento. Ver o início de sua cumplicidade com Chewbacca (Joonas Suotamo), como conseguiram superar obstáculos desde o instante inicial em que estiverem no cerne de uma situação desfavorável, foi uma das melhores coisas da produção.

Acompanhar a transação mediada por uma partida de cartas, que resultou no ganho da Millenium Falcon – uma de minhas naves favoritas da ficção – e como fica nítido o crescimento futuro de sua amizade com Lando Calrissian (Donald Glover, ganhando a atenção e o desejo por seu próprio spin-off) também conseguiu me arrancar sorrisos ao longo da projeção.

Pelo lado das novidades, temos Qi’ra (Emilia Clarke), atual interesse amoroso de Han – com quem ele tenciona fugir de seu cruel planeta natal, Corellia – e por quem se dispõe a voltar, uma vez que ela não consegue acompanhá-lo nessa primeira jornada, o que vai resultar em seu alistamento no Império.

Ainda há uma espécie de mentor (sempre há), Beckett (Woody Harrelson), que dará ao protagonista uma das lições mais válidas que terá em sua vida, já vista no trailer: “Se considerar que todos vão traí-lo, nunca vai se decepcionar”.

A história não conta exatamente com um vilão, mas participações pouco amistosas: Lady Proxima (voz de Linda Hunt), a criatura para quem Han era obrigado a trabalhar como uma espécie de escravo. E Dryden Vos (Paul Bettany) que, apesar de poucas cenas, consegue criar um tipo convincente, cuja ambição é tão grande quanto a frieza.

Como também virou tradição na franquia, o droide da vez é L3-37 (voz de Phoebe Waller-Bridge), cujo discurso sobre libertação e a luta por direitos iguais para robôs e humanos parece, dadas as devidas proporções, soa mais atual do que nunca. Identificação imediata e irremediável com o público.

Enfim, o filme cumpre a promessa de entregar uma boa iniciação, com uma trama bem simples, mas atrativa, aquele tipo de cenários já conhecidos e que têm a cara da franquia, além de contar com o ótimo trabalho do compositor John Powell, compositor da trilha original, na qual, sabiamente foram incluídos trechos inesquecíveis de canções icônicas dos episódios anteriores. Já o aclamado John Williams ficou responsável pela autoria do eficiente tema do protagonista.

Mas talvez seja mais interessante e funcional se o espectador conseguir o enorme feito de suprimir a expectativa de ver uma versão jovem do Han Solo “verdadeiro”. Apesar de ter encontrado seu próprio tom – embora recorrendo, de maneira justa e necessária, a vários trejeitos de Ford – Alden não se parece fisicamente com o personagem, tampouco sua voz lembra o timbre cínico e grave que tanto marcou a memória afetiva dos fãs, o que, pelo menos para mim, continua sendo um grande problema.

por Angela Debellis

Filed in: Cinema

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