Crítica: “Ilha dos Cachorros”

Quando li as primeiras informações sobre o novo trabalho do diretor Wes Anderson, imediatamente comecei a torcer por seu completo êxito, afinal, a produção uniria dois elementos pelos quais tenho um enorme apreço: cachorros e stop-motion.

E foi com essa expectativa alta que assisti à animação “Ilha dos Cachorros” (Isle of Dogs), que não só atendeu o que eu imaginava, como superou o que pretendia ver, ao entregar uma trama que pode parecer simples à primeira vista, mas que carrega uma profundidade genuína em cada uma de suas várias camadas.

Atari Kobayashi (voz de Koyu Rankin) é um simpático garotinho órfão, que vive sob a tutela de seu pouco amistoso tio, o prefeito Kobayashi (voz de Kunichi Nomura). Como amigo / protetor / guardião, o jovem conta com Spots (voz de Liv Schreiber), seu fiel cão, com quem consegue se comunicar através de um moderno aparelho que deve se tornar o objeto de desejo da grande maioria dos tutores de animais que sonham em aumentar ainda mais a aproximação que tem com eles, através de algum dialeto em comum.

Essa amizade fará com que Atari se embrenhe no local de descarte de lixo da cidade fictícia de Megasaki (no Japão), a fim de resgatar Spot, descartado junto aos demais cachorros, depois de um surto de gripe canina que assolou o território. Tal moléstia é tratável, com altos índices de cura, porém pouco interessante de ser dizimada, uma vez que os governantes – ao contrário da adoração que têm pelos gatos – nutrem verdadeira ojeriza pelos cães, que julgam serem inferiores e que, como tais, não merecem atenção ou auxílio. Discriminação que sempre machuca, independente de ser elemento em uma animação ou assunto de noticiários televisivos na vida real.

Durante a busca, o jovem encontrará outros cães que agora habitam a tal “Trash Island” (Ilha do Lixo, em tradução literal), cujas funções são bem delineadas nas matilhas que formaram, criando uma sociedade que tem momentos muito mais conscientes do que a liderada por humanos. Entre os personagens caninos, destaca-se o grupo formado por Chief (Bryan Cranston), Rex (Edward Norton), Duke (Jeff Goldblum), King (Bob Baladan) e Boss (Bill Murray), que com cargas emocionais e histórias pregressas peculiares, acabam formando uma espécie de “família” que tenciona proteger cada um de seus integrantes.

Entre os humanos, além de Atari, o destaque vai para Tracy Walker (Greta Gerwig), estudante de intercâmbio que, apesar da pouca idade, já apresenta forte senso de liderança e sabe que direitos foram feitos para serem respeitados – ainda que, muitas vezes, seja preciso lutar (literal e metaforicamente falando) por eles.

A opção por não se traduzir a maior parte das falas das pessoas – ditas no idioma japonês – pode parecer estranha a princípio, mas consegue atingir o pretendido pelo diretor: fazer com que as ações, as expressões faciais e movimentos corporais se sobreponham às palavras. Aliada a essa decisão, aparece a trilha composta por Alexandre Desplat, inspirado como sempre.

Embora haja uma forte aura política – que implica na clara demonstração de como o poder pode corromper o caráter de alguém – o que prevalece na história é mesmo a importância de se encontrar / manter bons amigos, que nos façam sentir que, de alguma maneira, vale a pena insistir em sonhar com um mundo melhor e mais justo – ainda que isso pareça cada vez mais uma ficção utópica.

por Angela Debellis

Filed in: Cinema

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