Crítica: “Judas e o Messias Negro”

Quando uma trama com o peso e o teor dramático / reflexivo / necessário de “Judas e o Messias Negro” (Judas and the Black Messiah) chega aos cinemas, sob a responsabilidade de ser baseada em fatos reais, é um daqueles momentos em que o coração dos espectadores é posto à prova.

Isso porque é duro imaginar que muito do que se vê em tela realmente aconteceu e, mais do que isso: que dadas às devidas proporções, ainda são coisas passíveis de ocorrerem em dias atuais – por mais absurda que tal afirmação possa parecer.

O drama biográfico dirigido por Shaka King (que também é responsável pelo roteiro ao lado de Keith Lucas) se passa na cidade americana de Chicago, em meados da década de 1960, e gira em torno da ação dos membros do partido político denominado Panteras Negras, que, liderado por Fred Hampton (Daniel Kaluuya, impecável), tinha como principal bandeira a luta pelos direitos dos negros. Mas, sua visibilidade torna-se perigosa aos olhos dos FBI e o jovem revolucionário passa a ser um alvo a ser abatido.

Do outro lado do relato está William O’Neal (LaKeith Stanfield, dando um show de atuação), ladrão de carros que, para se livrar da cadeia, acaba se infiltrando no partido como informante do agente Roy Mitchell (Jesse Plemons) – este diretamente subordinado ao polêmico J. Edgar Hoover (Martin Sheen), um dos criadores do FBI, que já teve sua biografia levada aos cinemas.

Existe uma visível ascensão da narrativa que se pauta, principalmente, nos impactantes discursos de Hampton. Com uma fala bastante eloquente, o jovem presidente do partido consegue atingir, além da comunidade negra, outras que também sofrem com as disparidades impostas por uma sociedade que não faz questão de enxergar o que acontece nos limites além de seus mundinhos particulares.

Também vale destacar a qualidade de elementos técnicos: da cenografia ao figurino – que emulam perfeitamente os anos de 1960 – passando por um exímio trabalho de fotografia e iluminação que entrega um resultado que transita entre força e apreensão com a mesma eficiência.

Ainda que, desde a escolha do título, já sejam óbvios o desenrolar e a conclusão da história – mesmo para quem desconhece os fatos nas quais esta se baseia – existe uma esperança de que a inconsequência humana não seja tão ativa. Assim como há de existir uma forte indignação diante de atitudes execráveis, cometidas como se fossem trivialidades cotidianas – além, é claro, do choque ao perceber como, em 52 anos que se passaram desde os eventos finais do longa, muita coisa poderia / deveria ter, de fato, mudado em escala global.

Imperdível.

por Angela Debellis

*Título assistido em Cabine de Imprensa promovida pela Warner Bros. Pictures.

 

Filed in: Cinema

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