Crítica: “Maligno”

Em entrevista recente, James Wan afirmou que seu novo trabalho, “Maligno” (Malignant) poderia ser classificado como uma “homenagem aos filmes de terror dos anos de 1980 e 1990”. Tal declaração me atingiu de duas maneiras opostas, indo da desconfiança à expectativa, uma vez que meus títulos favoritos do gênero datam das referidas décadas.

Sendo assim… Pense em roteiro que dosa igualmente surpresas e bizarrices (no melhor e mais amplo sentido das expressões). Já em seus momentos iniciais, o longa mostra a que veio e não se furta em exibir cenas que, mesmo sem pensar, acabam nos fazendo dar aquela apertadinha aflitiva nos olhos, por seu grau de explicitação.

E, durante 151 minutos, a proposta de se criar uma montanha russa emocional é levada ao pé da letra com precisão, o que transforma a possibilidade de se assistir à obra nos cinemas em algo a ser levado em consideração, mesmo que ainda haja as óbvias restrições devido à pandemia de Covid-19.

A trama nos apresenta Madison Mitchell (Annabelle Wallis), enfermeira que vive um relacionamento abusivo com seu marido Derek (Jake Abel). Após um evento traumático (mais um, dentre os vários já vividos pela personagem, e que serão revelados no decorrer da narrativa), ela passa a ter visões de assassinatos cometidos por uma misteriosa figura denominada como Gabriel e que, supostamente, seria seu “amigo imaginário” na infância.

Tais visões não são premonitórias, já que Madison, de modo inexplicável (até o ato final da história), só enxerga os crimes quando eles já estão sendo praticados, impossibilitando o salvamento das vítimas. Ainda assim, este é um ponto fundamental para a investigação da dupla de detetives formada por Kekoa Shaw (George Young) e Regina Moss (Michole Briana White), responsável pela busca / captura do assassino.

Dizer mais do que isso é estragar com a experiência assombrosa que a falta de aprofundamento nos demais fatos do roteiro de Ingrid Bisu, Akela Cooper e James Wan causa ao espectador. Se por um lado, os normalmente bem-vindos jumps scares são raros (quase inexistentes), por outro, há uma eficiência sem tamanho em transportar o público para dentro da ação e causar uma incômoda (entenda-se genial) sensação de que o perigo está bem mais perto do que podemos imaginar.

Sobre a questão visual, há muito a se destacar, em especial no que diz respeito aos recursos empregados em obras de Giallo e Gore. Quem é fã prévio dos gêneros citados, ficará satisfeito em saber que não existe nenhum pudor em apresentar em tela mortes cruéis e sangue em profusão, o que compensa (e muito) a escassez de sustos “gratuitos”.

Duas sequências merecem atenção: a que mostra uma visão aérea dos ambientes da casa de Madison, enquanto ela empenha uma fuga desesperada – o que nos dá a impressão de que o local é uma espécie de labirinto; e a que se passa na delegacia, quando o tributo de James Wan fica ainda mais claro, com a utilização de figurinos que remetem a diferentes décadas que tiveram títulos marcantes na história do terror cinematográfico / literário.

Entre muitos acertos, o que “Maligno” tem de mais atraente é a capacidade de ludibriar a plateia. Quando acreditamos já ter percebido todos os detalhes, ter descoberto os pontos principais, a produção põe à prova nossos dotes detetivescos e nos puxa de volta à posição de surpresos e incautos espectadores do espetáculo promovido por James Wan.

Imperdível.

por Angela Debellis

*Título assistido em Cabine de Imprensa promovida pela Warner Bros. Pictures.

Filed in: Cinema

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