Crítica: “Máquinas Mortais”

Eu terminei de ler o primeiro volume da quadrilogia escrita por Philip Reeve, poucas horas antes de assistir à sua adaptação cinematográfica, o que me deixou com duas percepções prévias bem aguçadas: que o filme seria visualmente incrível e que a história continha elementos, detalhes e sutilezas demais para caber em 128 minutos em tela.

Dirigido pelo ganhador do Oscar de Melhores Efeitos Especiais em 2005, por “King Kong”, Christian Rivers, “Máquinas Mortais” (Mortal Engines) é, de fato, uma produção belíssima – ainda mais quando vista em IMAX, mas que peca quando tenta recriar determinadas situações vistas no livro no qual se baseia, de maneira a talvez torná-las mais “aceitáveis” (o que as torna bem menos impactantes).

A trama se passa em um futuro pós-apocalíptico (sempre ele), quando a humanidade precisa se adaptar à nova realidade que surgiu graças aos resultados da chamada Guerra dos Sessenta Minutos, a qual praticamente dizimou a humanidade e o mundo do jeito que conhecemos. Apesar de parecer batida, acredite: a história tem inúmeros ingredientes que a colocam em um patamar de originalidade e que merecem atenção, mas que acabaram perdendo parte da essência no roteiro escrito por Peter Jackson, Phillippa Boyens e Fran Walsh.

Logo na cena inicial somos apresentados às chamadas Cidades Tracionadas, que são, literalmente, cidades que se movem sobre rodas. Em uma sequência incrível, vemos Londres – um dos locais mais importantes da ação – como uma grande predadora que visa absorver um pequenino povoado, a fim de obter seus recursos naturais, bens matérias e mão-de-obra escrava. Essa inusitada perseguição, quando vista sob a perspectiva de que são humanos caçando humanos, torna-se ainda mais desconcertante.

O ponto central da narrativa começa anos antes, quando o agora “herói” de Londres, Thaddeus Valentine (Hugo Weaving) assassina a arqueóloga Pandora Shaw (Caren Pistorius) e mutila o rosto de sua pequena filha Hester Shaw (Hera Hilmar), por causa de um misterioso – e aparentemente letal – artefato de Old Tech (Velha Tecnologia, em tradução literal), que daria a quem o tivesse em mãos, poder suficiente para tornar-se soberano diante de todos.

O reencontro de Valentine e, da agora adolescente Hester, desencadeará uma sucessão de fatos que levarão a segredos ocultos, conspirações governamentais e experiências em que falta de ética e crueldade andam juntas. Sim, é muita coisa para absorver, mas embora tenham faltado várias delas para tornar o filme mais substancial, a edição é eficiente e, quem não leu o livro pode até ficar com algumas dúvidas, mas no geral, consegue entender o contexto tratado.

Há vários tipos interessantes e que têm importância em algum momento: A filha de Valentine, Katherine (Leila George), apesar de muito mais ‘rasa’ na telona, ainda mantém sua postura e convicções firmes; Tom Natsworthy (Robert Sheehan), o inusitado companheiro de jornada de Hester, acaba ganhando em dias, a experiência que não conseguiu em anos de vida preso a uma rotina maçante nos corredores do Museu de Londres (ou do que restou dele); a aviadora e líder Anna Fang (Jihae), cujas facetas são bem mais trabalhadas no papel, faz com que o público não fique impassível diante dela.

Mas, assim como no livro, o personagem que mais me intrigou e chamou a atenção é Shrike (Stephan Lang) – um ex-soldado morto em combate, ressuscitado por uma espécie incomum de tecnologia em um corpo que mescla uma estranha aparência humana com membros de aço, que ganha a alcunha de “Caçador” e a ela faz jus desde o primeiro momento em que surge na história.

Assim como produções anteriores (e vindouras, eu acredito), “Máquinas Mortais” se equilibra entre ser um filme de entretêm, ao mesmo tempo em que é uma adaptação literária questionável. Com um final em aberto – assim como a obra original -, mais uma vez só nos resta torcer para que os demais volumes da quadrilogia sejam levados às telas e que esse não tenha sido apenas mais um triste caso de sagas que encerram suas histórias no cinema, antes mesmo de se tornarem franquias.

por Angela Debellis

Filed in: Cinema, Livros

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