Crítica: “Não vamos pagar nada”

Não é novidade que dentro do mercado de entretenimento, a comédia é um dos gêneros mais complicados de ser fazer, até mesmo porque, usando o sempre necessário bom senso, nem todos os assuntos são passíveis de virar pautas cômicas (ou pelo menos, não deveriam).

Sendo assim, há de se ter muito equilíbrio ao se retratar sob esse viés, temas como fome, desemprego, desigualdade social e honestidade. E é justamente esse bom resultado que “Não vamos pagar nada” consegue entregar.

Baseada na peça teatral de 1974, “Sotto paga! Non si paga!”, do escritor, dramaturgo e comediante italiano Dario Fo, a narrativa da comédia nacional se passa em torno do cotidiano de figuras simples, cujas vidas não são fáceis, mas que ainda se mantêm bem-humoradas, apesar de tudo.

A história começa com a personagem interpretada por Samantha Schmütz, Antônia, em busca de emprego, a fim de ajudar nas despesas da casa em que vive com o marido João (Edmilson Filho), que também está prestes a ser demitido.

Após várias respostas negativas, a dona de casa vai ao mercado de seu bairro fazer compras de primeira necessidade, quando descobre que sob nova direção, o estabelecimento não aceita mais pagamentos posteriores – o famoso “fiado”.

Uma esperada onda de indignação toma os presentes que também vivem na mesma delicada situação da protagonista, e estes decidem depredar o local, levando embora produtos sem pagar por eles.

 Até porque envolvem as necessidades básicas das pessoas (na maioria dos casos), situações como essa, quando vistas na vida real, não têm graça e podem ser marcos de extrema violência. Mas para o filme, é o ponto de partida para o desenrolar de um divertido enredo, baseado nas crescentes mentiras dos personagens para ocultar seus atos.

O grande destaque do longa que é o primeiro trabalho cinematográfico dirigido por João Fonseca, é a química entre os integrantes do elenco. Além do texto brilhante, que tem tiradas que não devem encontrar dificuldade em fazer o público rir, existe um trabalho visual que consegue prender a atenção do espectador.

Em dado momento – que pode ser visto em partes no trailer oficial do filme – Antônia diz para sua amiga Margarida (Flávia Reis) “fazer cara de grávida”. Tal expressão é explicada como uma mistura de sentimentos que, quando expressados pela atriz, consegue divertir de maneira imediata e natural.

Não cabe fazer de “Não vamos pagar nada” uma plataforma para se discutir política, embora seu tema seja bastante pertinente para isso. Assim como os próprios personagens, o ideal para se aproveitar a produção, é encontrar aquela pequena brecha entre a discussão cega e a que pode levar a algum lugar, sem que durante esse percurso se perca a capacidade de seguir em frente.

A comédia chega a cinemas selecionados a partir de hoje, 08 de outubro, e será lançada em 15 de outubro (véspera do Dia Mundial da Alimentação), pelo selo Première Telecine, com estreia simultaneamente no streaming e no canal Telecine Premium. Na mesma data, também estará disponível para aluguel em outras plataformas digitais.

por Angela Debellis

*Título assistido via streaming.

Filed in: BD, DVD, Digital, Cinema, TV

You might like:

Crítica: “Guerra Civil” Crítica: “Guerra Civil”
Crítica: “Jorge da Capadócia” Crítica: “Jorge da Capadócia”
Crítica: “Névoa Prateada” Crítica: “Névoa Prateada”
Crítica: “Zona de Exclusão” Crítica: “Zona de Exclusão”
© 5091 AToupeira. All rights reserved. XHTML / CSS Valid.
Proudly designed by Theme Junkie.