Crítica: “O 3º Andar – Terror na Rua Malasana”

Embora apresente vários elementos vistos comumente em outros títulos do gênero, existe algo de surpreendente em “O 3º Andar – Terror na Rua Malasana” (Malasãna 32), longa espanhol dirigido por Albert Pintó que chega aos cinemas brasileiros, depois do adiamento causado pela pandemia de Covid-19.

A trama começa em 1972 e entrega uma das sequências de abertura mais eficientes dos últimos tempos, em se tratando de produções de terror. Não há nada muito explícito (como em obras gore ou slasher, o que se vê aqui é o bom e velho thriller), mas uma simples bolinha de gude verde, um excelente uso de luz e sombras, uma silhueta misteriosa e duas crianças curiosas são o bastante para assegurar um êxito completo.

O restante do filme se passa quatro anos depois, em 1976, e conta a história de Manolo (Iván Marcos) e Candela (Bea Segura), que deixam para trás a vida pacata que levam em um sítio, ao decidir se mudar para um apartamento recém-financiado, em Madri, junto aos três filhos – os adolescentes Amparo (Begoña Vargas) e Pepe (Sergio Castellanos), e o caçula Rafael (Iván Renedo) – único filho em comum do casal -, além do pai idoso e com traços de senilidade de Candela, Fermin (José Luis de Madariaga).

Dando razão ao ditado popular que prega que “quando a esmola é muita, o santo desconfia”, é de se imaginar que haja alguma coisa errada quando o preço de um imóvel é muito abaixo do proposto pelo mercado em geral. Nesse caso, o tal empecilho surge sob a forma de um espírito que passa a assombrar a família Olmedo e cuja motivação para que o pequeno Rafael seja seu maior alvo logo é revelada.

A partir do desaparecimento do garoto, todas as subtramas acontecem simultaneamente e mostram que, mesmo que a ação se passe quase por completo dentro do tal apartamento que dá nome à produção – causando uma contínua sensação de desconforto, não só pelo fato do espaço diminuto, mas pela ótima cenografia que emula com eficiência uma parte da Espanha em situação totalmente precária, que pouco tem a oferecer a seus moradores – a amplitude da narrativa engloba muito mais do que vemos a princípio.

Sem apresentar nenhum arco que possa ser considerado inovador, o roteiro de Ramón Campos, Gema R. Neira, David Orea, Salvador S. Molina consegue entregar um resultado até que satisfatório, ainda mais no que diz respeito às explicações na parte final da produção, que deixam de se esgueirar pelo horror cru, para ganhar contornos até mesmo sentimentais – o que não deixa de ser inesperado.

Anunciado como sendo inspirado em fatos reais, “O 3º Andar – Terror na Rua Malasana” na verdade se apoia em lendas locais que envolvem assassinatos e contos de assombração. O que não diminui em nada seu potencial de criar uma mitologia própria para convencer o espectador a embarcar na história, seja através da curiosidade em descobrir o que há por trás das paredes do malfadado imóvel ou pelo uso recorrente de jumpscares (estes, como na maioria dos filmes do gênero, nem sempre convenientes ou necessários).

Curiosidade: O longa conta com a participação especial de Javier Botet, grande nome do cinema de terror, tendo em sua filmografia títulos como “IT- A Coisa”, “IT – Capítulo 2”, “Histórias Assustadoras para contar no Escuro” e “Invocação do Mal 2”.

Vale conferir.

por Angela Debellis

*Título assistido em Cabine de Imprensa Virtual promovida pela Paris Filmes.

 

Filed in: Cinema

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