Crítica: “O Peso do Passado”

Esta é a história da policial Erin Bell, que revive um conflituoso trabalho realizado anos antes, quando se infiltrou em uma gangue encabeçada por Silas (Toby Kebbell), um delinquente perigoso, inescrupuloso, violento. Essa difícil tarefa policial não dá certo, resulta em morte e numa mágoa que a acompanhará até o presente.

Como o relato se ocupa deste presente e também de um passado distante, neste filme se comprovará – dentre outras surpresas – que há duas Nicole Kidman neste mundo. Como se uma já não fosse suficiente…

Muitos espectadores devem conhecer esta atriz nascida em 1967 no Hawaii, que viveu na Austrália e depois trabalhou nos Estados Unidos, em títulos famosos como De Olhos bem Fechados, Moulin Rouge, Os Outros e alguns mais recentes como Amigos para Sempre (que também entra em cartaz no Brasil hoje) e Aquaman.

A mencionada duplicidade é um dos elementos que apresenta O Peso do Passado (Destroyer). O relato abrange os dois momentos temporais dessa vida, que se vão misturando nas imagens. E isso traz uma Kidman totalmente diferente daquela que se pode lembrar com relação aos seus trabalhos anteriores.

Para o espectador que já a conhece, a atriz parece familiar na etapa distante no tempo, com seu olhar transparente e seu sugestivo sorriso. Mas é quase irreconhecível no momento atual da narração. Por isso, a menção de “duas Kidman”.

Em especial nas primeiras imagens, que são da vida presente dessa mulher, fica bastante difícil reconhecê-la. Para obter essa transformação confluíram, sem dúvida, a própria atriz e a maquiagem (Cary Ayers / Bill Corso) e o penteado (Barbara Lorenz). Há também um complicado trabalho de roteiro (Phil Hay / Matt Manfredi), edição (Plummy Tucker) e, claro, direção (a nova-yorkina Karyn Kusama).

Também, como dito, aparece outro par de vínculos: o passado de Erin Bell como mãe e seu presente. Mas o relato não é linear em nenhum sentido e as duas etapas maternais também se misturam.

Esse fato de ser policial, mais especificamente da cidade de Los Angeles, não é nenhuma novidade no cinema e na TV estadunidenses, e também não é algo novo que uma protagonista seja mãe de uma adolescente, Shelby (Jade Pettyjohn) – que, claro, antes fora um bebê. Mas são elementos que aparecem de modo eficiente neste filme.

E para Kidman implica interpretar situações de ação e drama. O primeiro aspecto, preferentemente na sua condição de policial; o segundo como mãe. Algo não simples de ser explicado e bastante desafiador para a plateia.

A obra é tensa, dinâmica, cheia de ação, mas também com alguns momentos de ternura – beijo de um homem e uma mulher compartilhando um plano ilegal, diálogo esclarecedor entre uma mãe consciente a respeito de seu desafortunado passado e a ameaça de um futuro muito ruim para sua filha. Entretanto, além das características gerais mencionadas, há cenas específicas para o público adulto, que incluem um quase suicídio induzido e um assalto violento.

Até aparecem diversos níveis de psicologia: no deliberado perfil de Erin, com suas facetas mais profundas e que exigem uma difícil composição da atriz. Também na menção de uma psicóloga social que procura ajudar à filha adolescente de Erin e que, com uma só e aparentemente simples pergunta, consegue fazê-la refletir sobre vivências fundamentais da sua vida, em especial quando criança.

Por outra parte, as imagens nos levam de um submundo de marginalidade – às vezes legal, outras decididamente ilegal – a outro, de luxo material, com riqueza prepotente e também suja.

Ao final tudo parece se reacomodar a um preço bem elevado: um jovem skatista consegue realizar uma acrobática manobra, como em uma espécie de espelho que reflete o que acontece na dolorosa vida da protagonista.

Tudo isso para chegar a um final perfeito ou pouco menos. Revelador de diversas informações vitais para a trama, obviamente em primeiro lugar sobre a protagonista, pode ter eventualmente alguns aspectos previsíveis, mas outros bem inesperados.

Para concluir: O Peso do Passado é um filme policial e dramático, com personalidade, onde Nicole Kidman apresenta duas facetas como atriz – uma típica nela, e outra nova, surpreendente.

por Tomás Allen – especial para A Toupeira

Filed in: Cinema

You might like:

Crítica: “Godzilla e Kong: O Novo Império” Crítica: “Godzilla e Kong: O Novo Império”
Crítica: “Instinto Materno” Crítica: “Instinto Materno”
Crítica: “Nada será como antes – A música do Clube da Esquina” Crítica: “Nada será como antes – A música do Clube da Esquina”
MIS celebra 40 anos de “Ghostbusters” com exposição inédita e gratuita MIS celebra 40 anos de “Ghostbusters” com exposição inédita e gratuita
© AToupeira. All rights reserved. XHTML / CSS Valid.
Proudly designed by Theme Junkie.