Crítica: “Os Pequenos Vestígios”

Com a produção incessante e cada vez maior, e até que apareça (se é que isso ainda tem chance de acontecer) um roteirista / diretor com uma ideia totalmente revolucionária – no sentido mais amplo da palavra -, é muito complicado esperar por algum ineditismo completo no cinema. A sensação é de que sempre haverá um personagem, uma cena, um diálogo, um elemento cenográfico que acabará nos remetendo a alguma obra já vista antes.

E isso não é necessariamente ruim (nem exclusividade do cinema, já que todo mercado de entretenimento padece do mesmo mal), afinal, o que é bom deve mesmo ser exaltado e servir como exemplo – até o ponto em que isso se torne plágio, aí acaba virando um grande problema. Mas, não é esse o caso.

Com relação a “Os Pequenos Vestígios” (The Little Things), o que temos é uma base que já serviu – e com certeza, ainda servirá – como ponto de partida para muitas produções, com protagonistas que parecem ter pouco em comum, mas se unem por um bem maior – como encontrar e prender um serial-killer que tem dado muito trabalho à polícia.

O longa dirigido e roteirizado por John Lee Hancock – cujo desenvolvimento demorou quase 30 décadas para ser concluído – conta a história do delegado adjunto do condado da cidade de Kern, Joe “Deke” Deacon (Denzel Washington), que, inesperadamente, se vê diante de um intrincado caso liderado pelo Delegado do Departamento de Polícia de Los Angeles, Jim Baxter (Rami Malek).

Ao firmarem uma singular parceria, os dois enfrentarão traumas do passado e desafios do presente, para tentar dar um fim a um execrável ciclo de mortes de mulheres, que já dura 20 anos.

O terceiro nome da tríade normalmente vista em filmes do gênero “suspense com serial-killers” atende pelo nome de Albert Sparma (Jarede Leto em interpretação que já lhe rendeu indicações ao Globo de Ouro e ao Prêmio do Sindicato dos Atores, na categoria de Melhor Ator Coadjuvante). Sua desconfortável e enigmática figura transita entre a nítida culpa e a infundada acusação, com a mesma facilidade.

Embora o ritmo do longa mostre-se falho em alguns momentos (a duração de 128 minutos parece exagerada), no geral é possível afirmar que as coisas funcionam bem em tela – ainda mais se pensarmos sob a ótima de que uma investigação policial de verdade não flui na mesma velocidade que vemos em várias obras, com tudo sendo esclarecido em minutos. Seja no quesito interpretação ou nos pequenos detalhes que aparecem e ajudam a montar o quebra-cabeças que levará à resolução.

Por falar nisso, o final traz uma sequência que merece destaque por sua competência em juntar várias pontas pendentes que pareciam que não teriam uma conclusão satisfatória. A cena é curta, não há diálogos, mas sua importância para o encerramento do filme / caso é imensa.

“Os Pequenos Vestígios” chega aos cinemas brasileiros depois de vários adiamentos devido à pandemia de Covid-19. Vale conferir.

por Angela Debellis

*Título assistido em Cabine de Imprensa promovida pela Warner Bros. Pictures.

Filed in: Cinema

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