Crítica: “Rainha de Katwe”

Fábulas sobre superação são em sua maioria, eficientes e emocionantes. Mas e quando a ficção dá lugar a fatos reais, e a emoção milimetricamente pensada por bons redatores é tomada pela dura realidade, o que pode acontecer?

No caso de “Rainha de Katwe” (Queen of Katwe), com roteiro de William Wheeler e direção de Mira Nair, o resultado é um filme sob medida para os que ainda acreditam em mudanças radicais na vida de alguém. O longa tem em seu centro a trajetória vitoriosa de Phiona Mutesi (Madina Nalwanga), jovem nascida na pequena região de Katwe (em Kampala, capital de Uganda), cujas perspectivas de sucesso eram improváveis, até o dia em que descobriu em um simples tabuleiro de xadrez, a real chance de transformar sua história.

O responsável por essa descoberta é Robert Katende (David Oyelowo), cujo trabalho como missionário ajudava crianças dos arredores da cidade a desenvolverem muito mais do que o raciocínio através dos movimentos de peças surradas que, aos olhos de seus jovens jogadores tornavam-se joias preciosas.

Com o progresso de suas habilidades, Phiona começa a participar de várias competições e seus constantes êxitos acabam gerando dois pontos tão opostos quanto grandiosos: a vontade de evoluir cada vez mais a fim de ajudar sua família que vive em estado de miséria absoluta, e a revolta por não ter condições de manter-se como os jogadores mais abastados com quem disputa as partidas. É o momento de perceber que o orgulho pode ser um vilão quando se deixa dominar por ele.

Há vários contrastes: os troféus e medalhas reluzentes parecem deslocados no interior da igreja abandonada que serve de lar para a família da protagonista (cujo problema de moradia rende uma das sequências mais pungentes do longa). As cores das roupas dos moradores caminham em direção contrária à falta de esperança que tira o colorido da alma de cada um.

Destaque para as atuações de um elenco bastante entrosado. Lupita Nyong’o dá vida à Harriet Mutesi, mãe de Phiona, que ainda muito jovem se vê viúva e responsável por quatro filhos. Madina Nalwanga cumpre bem o papel de estrear no papel principal e entrega ao espectador uma garota que com o passar dos anos aprende a enxergar – e principalmente aceitar – a vida de maneira a nunca se esquecer de que ao término do jogo, todas as peças voltam para a mesma caixa (clichê muito válido para a ocasião).

Vale ressaltar também a qualidade da trilha sonora composta por Alex Heffes, que baseada nos marcantes ritmos africanos consegue dar os tons necessários a cada situação. E, assim como em outras produções, a música se mostra uma forte aliada para que o público crie empatia pela trama.

Durante os créditos finais, vemos os personagens reais ao lado de seus intérpretes e na tela surgem atualizações de suas histórias. É gratificante saber como algumas pessoas, sua força de vontade e coragem para não desistir podem mudar e reescrever finais mais felizes para seus semelhantes.

Vale conferir.

por Angela Debellis

Filed in: Cinema

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