Crítica: “Ron Bugado”

Nos anos de 1970, bem antes do surgimento das redes sociais, um grande clássico da música popular brasileira já expunha um desejo que seria quase padrão a muitas pessoas nos dias de hoje: “Eu quero ter um milhão de amigos”. Mas, ao pararmos para pensar, será que a tecnologia nos trouxe, realmente, a possibilidade de ter essa improvável quantidade de “amigos”, no sentido mais literal da palavra?

Amizade e tudo que isso significa. Esse é o tema central de “Ron Bugado” (Ron’s Gone Wrong), nova animação da 20th Century Studios que chega aos cinemas brasileiros. Na trama, conhecemos Barney Pudowski (voz de Jack Dylan Grazer na versão original), jovem estudante do ensino fundamental, cuja timidez e falta de traquejo social – aliados à desfavorável situação financeira de sua família – o colocam quase em um mundo à parte daquele habitado pelos demais colegas que possuem os celebrados B-Bots.

Tais objetos de desejo são uma espécie de robôs criados para, de acordo com a etiqueta de fábrica, ser o “seu melhor amigo fora da caixa”. Através de suas inúmeras funções, é possível interagir com as redes sociais e criar todo tipo de conteúdo. E, por todo tipo, entenda-se também aquele que nem sempre traz benefícios, mas que seguem populares, não importando o quanto podem ferir emocionalmente alguém.

Quando Barney ganha um B-Bot em seu aniversário de 11 anos, a expectativa é de que sua vida social finalmente daria uma guinada, a partir da vindoura interação com outras inteligências artificiais, o que levaria à aproximação com pessoas reais. O que ele não contava é que seu robozinho (que será nomeado como Ron) viria, como o título da animação indica, “bugado” e incapaz de fazer as atualizações de softwares por conta própria.

A partir desse ponto, o que vemos em tela é a construção daquilo que é a mais verdadeira representação de amizade, quando existe o cuidado para com o outro, as descobertas de pontos em comum, a aceitação e o aprendizado sobre o próximo. O avanço na percepção de conhecimento de Ron (voz de Zach Galifianakis) sobre o que de fato importa em Barney é um processo lindo de se acompanhar.

Contando com mais momentos divertidos – como a cena em que Ron distribui “Convites de Amizade” através de desenhos feitos em post-its – a produção dirigida por Sarah Smith (que assina o roteiro ao lado de Peter Bayhman) e Jean Philippe-Vine também consegue entregar ótimas sequências mais emocionais, como a que envolve a viralização de um vídeo de uma das colegas de sala de Barney, Savannah Meades (voz de Kylie Cantrall), cuja popularidade virtual torna-se nociva e perigosa.

Por falar em perigo, há uma clara (e bem executada) crítica à indústria de tecnologia que privilegia lucros imediatos e crescentes em detrimento ao que pode ser melhor a seu público. Os dois lados da questão são representados por membros da fábrica de B-Bots: o inescrupuloso Andrew Morris (voz de Rob Delaney) e o visionário Marc Wydell (voz de Justice Smith).

Também vale destacar a importância da família na vida do jovem protagonista. Órfão de mãe, Barney vive com seu pai, Graham (voz de Ed Helms) – um desajeitado vendedor de bugigangas online -, e a avó Donka, (voz de Olivia Colman), adorável senhora que tem um dos momentos mais graciosos ao lado de Ron, a quem ensina uma canção que, provavelmente, ficará na cabeça de vários espectadores ao término da sessão.

Seja visto por qualquer vertente, da diversão pura à acertada crítica ao papel que a tecnologia ocupa em nossas vidas, “Ron Bugado” é imperdível.

por Angela Debellis

*Título assistido em Cabine de Imprensa promovida pela 20th Century Studios.

Filed in: Cinema

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