Crítica: “Shang-Chi e a Lenda dos Dez Anéis”

Em dado momento de “Shang-Chi e a Lenda dos Dez Anéis” (Shang-Chi and the Legend of the Ten Rings), uma personagem diz ao protagonista que ele deve parar de se esconder. Aparentemente seguindo tal conselho à risca, a Marvel traz, pela primeira vez às telonas, o herói criado por Jim Starlin e Steve Englehart, cuja primeira aparição nos quadrinhos aconteceu no longínquo ano de 1973.

A trama dirigida por Destin Daniel Cretton tem alguns cenários distintos para acontecer. Em San Francisco / Estados Unidos, vemos Shang-Chi (Simu Liu) já adulto, levando uma vida que transita entre simples e pacata, com a função de manobrista em um hotel de luxo. Sua melhor amiga / colega de trabalho Katy (Awkwafina) é quem acrescenta a necessária dose de diversão à rotina, com seu jeito espontâneo e pra lá de sincero.

Os flashbacks – importantes em uma história de origem, a fim de situar o público na trajetória do personagem até os dias atuais – se passam em Macau/China. Neles, vemos o protagonista, de seu nascimento até a adolescência, e podemos acompanhar a conturbada relação com seu pai Wenwu (Tony Leung), que, desde muito cedo, impõe um rígido treinamento ao filho, a fim de torná-lo um assassino infalível, membro da Sociedade dos Dez Anéis.

Este também é o local em que a maior parte da narrativa roteirizada por Dave Callaham, Destin Daniel Cretton e Andrew Lanham ocorre, após um inesperado ataque em um ônibus (visto parcialmente no primeiro trailer), quando Shang-Chi é obrigado a colocar em prática todo seu conhecimento como Mestre de Kung Fu – o que resulta em um dos melhores momentos do filme.

Do reencontro com sua irmã caçula Xialing (Meng’er Zhang) e acerto de contas com o pai tirano, ao grandioso e impecável ato final – quando o viés místico ganha a força que merece e acrescenta ainda mais beleza ao que é mostrado em tela -, tudo acontece tendo o país asiático como pano de fundo.

Não parece exagero afirmar que todos os elementos, dos menores detalhes às grandiosas sequências, funcionam na produção. Existe um gradual estabelecimento de qualidade que faz com que as mais diversas cenas sejam interessantes o suficiente não só para manter, mas para aumentar o interesse do público durante os 132 minutos de duração do longa.

Falar sobre o elenco é exaltar o trabalho coletivo de todos que o compõem. Simu Liu e Meng’er Zhang têm estreias memoráveis, enquanto Awkwafina segue bastante confortável / competente no que se propõe a fazer. Entre os veteranos, Tony Leung (também em seu primeiro trabalho para o cinema hollywoodiano) e Michele Yeoh mostram como uma base sólida é necessária para que uma boa história possa ser contada.

Tendo a aposta no misticismo como cerne da chamada “Fase 4”, o Universo Cinematográfico Marvel entrega um dos maiores acertos, desde seu início em 2003. Com excelência no que diz respeito a equilibrar uma trama de origem que contenha (incríveis) cenas de ação e um enorme respeito pela cultura e lendas orientais, “Shang-Chi e a Lenda dos Dez Anéis” se consagra como uma das melhores surpresas desse ano – e como meu novo título favorito da longeva franquia de filmes de heróis da aclamada editora de quadrinhos.

Assim como já é padrão em produções da Marvel, há cenas adicionais durante os créditos finais. Uma, com um tom mais divertido, mantendo a linha definida por longas anteriores e com surpreendentes aparições. A outra, com importante conteúdo para uma suposta (e muito ansiada) continuação.

Imperdível.

por Angela Debellis

*Título assistido em Cabine de Imprensa promovida pela Disney Studios.

Filed in: Cinema

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