Crítica: “Soul”

Ainda que em épocas e por razões diferentes, é quase impossível crer que existe alguém que nunca se questionou sobre o que nos espera (se é que existe algo) após o término de nossa vida no mundo em que conhecemos. A famosa tríplice questão “Quem somos? Para onde vamos? De onde viemos?” é parte inerente de cada um de nós.

Depois de ter sua estreia nos cinemas adiada várias vezes, até ser cancelada devido à pandemia de Covid-19, “Soul” (Soul) chega à plataforma de streaming Disney Plus e, de maneira sublime traz à tona um assunto que poderia tornar-se pesado, caso o roteiro não fosse bem executado.

Felizmente, a nova produção da Disney / Pixar é formada por uma sucessão de acertos que a transforma em título obrigatório para os fãs de animações que encantam ao mesmo tempo em que fazem refletir.

A narrativa se passa em Nova York e nos apresenta Joe Gardner (voz de Jamie Foxx na versão original), um professor de música que tem como frustração / meta não realizada de vida fazer sucesso nos palcos como pianista de jazz – sonho este acalentado desde a infância, quando foi apresentado ao ritmo por seu pai.

Quando surge a oportunidade de fazer uma audição para tornar-se integrante da banda da famosa jazzista Dorothea Williams (voz de Angela Bassett), o simpático protagonista faz de tudo para obter a vaga, mas um acidente inesperado vai acabar precocemente com suas aspirações.

Parece triste? Realmente é. Mas essa é a grande beleza da animação dirigida por Pete Docter e Kemp Powers (que também escrevem o roteiro ao lado de Mike Jones), que mostra de maneira delicada e inteligente o que seria uma espécie de “pós-vida”, para onde Joe é encaminhado – agora não mais em sua forma humana, mas como uma alma (o que faz total sentido com o curto e eficaz título original – também mantido no Brasil – que pode ser traduzido tanto como alma, como representar um ritmo musical).

Nesse lugar, mais do que existe após, nós acompanhamos o que existe antes da vida propriamente dita. É onde ele recebe a incumbência de se tornar algo como um mentor para uma alma sem nome, chamada apenas de 22 (voz de Tina Fey) – número este que faz alusão a seu lugar na fila de “espíritos” que devem ser preparados para sua chegada no planeta Terra – e que não parece disposta a encarar os desafios de se tornar uma pessoa viva.

A descoberta de que ela está há tanto tempo no local, embora desoladora, também traz ótimos momentos divertidos para a trama, com direito à citação de grandes nomes da história mundial – em sequência vista em partes no trailer divulgado anteriormente. Assim como abre a questão de que não existe nada que seja perfeito, já que, embora muito bonito e agradável, o ambiente não proporciona nenhum tipo de satisfação que seja intimamente ligada à vida terrestre – como o fato de existir comida lá, mas não ser possível sentir o gosto.

A história ganha um ritmo mais ágil quando ocorre algo imprevisto que faz com que Joe e 22 tenham a oportunidade de passar por experiências únicas. Seja a saciedade da fome, a percepção do vento no rosto, a conclusão de que às vezes passamos tanto tempo olhando para o que não temos, que nos esquecemos de aproveitar o que possuímos. São pequenos ensinamentos que podem até parecer clichê em alguns instantes, mas que trazem consigo uma inspiração digna de aplausos.

Cabe ressaltar a eficiência de se apresentar um produto que tem a capacidade de conquistar o público de várias idades. Para os menores, a maneira lúdica com que o espaço que 22 divide com as demais almas é mostrado. Para os mais velhos, a forma gentil de se tratar de questões como a finitude da vida e a necessidade de aproveitar o tempo limitado que temos.

Não que chegue a ser uma novidade, mas é muito bom perceber que a dupla Disney / Pixar acertou de novo. Um imperdível presente de Natal.

por Angela Debellis

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