Crítica: “Spencer”

Existe uma grande mitologia acerca da expressão “Levar uma Vida de Princesa”, reforçada pelos Contos de Fadas Clássicos e diversas obras literárias que associam a possibilidade ao ilusório “Felizes para Sempre”.

Tal fato é desmistificado ao longo dos 117 minutos de duração de “Spencer”, que se inicia com a promessa de ser “Uma fábula sobre uma tragédia real”. O longa chega aos cinemas brasileiros com a responsabilidade de ser um dos favoritos na próxima cerimônia do Oscar, já trazendo vários prêmios em sua bagagem.

A trama gira em torno do período que antecede o divórcio da Princesa Diana (Kristen Stewart, multipremiada por sua atuação) e Príncipe Charles (Jack Farthing). Mais precisamente, durante as festividades natalinas, marcadas pelo exagero que parece ser tradicional quando se trata de assuntos relacionados à realeza.

A protagonista aparece completamente deslocada dos cenários (por sinal, impecáveis no que diz respeito à cenografia). Como se seu papel como princesa desse lugar a uma versão bem menos sonhadora e a transformasse em uma prisioneira dentro de Queen’s Sandringham, a casa de campo da  Família Real.

Com um ritmo bastante peculiar – que pode não agradar quem busca por produções aceleradas, mas que faz todo o sentido nesse caso -, o roteiro escrito por Steven Knight apresenta os bastidores da vida de Diana de maneira muito sincera e mostra as várias facetas que a assim apelidada “Princesa do Povo” precisa adotar para conviver entre paredes e pessoas que parecem sufocar sua verdadeira essência.

Os momentos em que vemos seu lado maternal são comoventes e fazem pensar no quanto seus filhos William e Harry (interpretados por Jack Nielen e Freddie Spry, respectivamente) perderam com sua partida precoce e inesperada – assunto sabiamente não tratado na produção. Assim como são dolorosas as sequências em que a vemos suprimir seus pensamentos e anseios, cujo ápice da representação se dá durante o jantar de Natal e envolve um significativo colar de pérolas.

Dirigido por Pablo Larraín, “Spencer” não pretende romantizar a vida da protagonista (e nem deveria fazê-lo), o que torna sua narrativa quase que dolorosa. As lembranças de infância /juventude da protagonista, a decepção com o fracasso de seu casamento regado a traições públicas, a insatisfação com a própria aparência exacerbada através de graves transtornos alimentares, a impossibilidade de ser salva de um destino cuja tragédia de sua conclusão era claramente anunciada. Tudo que se vê em tela tem importância.

Ao término da exibição, a vontade é a de termos assistido apenas a uma obra ficcional, que poderia ter uma versão alternativa mais feliz, cheia de opções e realizações de sonhos. Como se Diana fosse alguém querido, próximo e tivéssemos a chance de ajudar de algum modo, a escapar de uma vida que não lhe parecia justa. Pena que na vida real as coisas não funcionem assim.

Vale conferir.

por Angela Debellis

*Título conferido em Cabine de Imprensa promovida pela Diamond Films.

Filed in: Cinema

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