Crítica: “Tully”

Talvez poucas coisas carreguem sentimentos tão controversos dentro de si quanto a maternidade. Como diz a conhecida frase que afirma que “ser mãe é padecer no paraíso”, a verdade é que existe muita beleza no ato de se gerar uma pessoa, assim como há muitas implicações também. E é exatamente essa montanha-russa de emoções que sustenta o roteiro de “Tully” (Tully), longa que tem a direção de Jason Reitman.

O que eu mais admiro no estilo de Diablo Cody (produtora do longa) é a capacidade de enxergar por trás do “romantismo” que a sociedade impõe a certas situações. Na trama, a protagonista é Marlo (Charlize Theron), que surge em tela na reta final de sua terceira (e não planejada) gestação. Sua pouco atraente rotina em família – formada pelo marido Drew (Ron Livinston) e os filhos Sarah (Lia Frankland) e Jonah (Asher Miles Fallica), este com graves problemas de socialização – é apresentada de maneira bastante honesta aos espectadores.

Com o nascimento da bebê, a já exaustiva lista de tarefas aumenta na mesma proporção em que a energia de Marlo diminui. Não lhe falta amor, lhe falta força (emocional e física) para enfrentar as novas tarefas que a inclusão de mais um membro na família lhe acrescentam.

Quando sua exaustão fica visível aos olhos dos que a cercam, parece ser a hora de agir em prol da manutenção do que lhe resta de sanidade e amor próprio. É quando seu irmão Craig (Mark Duplass), o “bem sucedido da família” lhe oferece o pagamento do serviço de uma babá noturna, a fim de ela possa restaurar seu sono e, por consequência, seu equilíbrio.

A chegada de Tully (Mackenzie Davis) provoca uma pequena revolução na vida de Marlo. Ao contrário da protagonista, a jovem tem energia de sobra e, além de cuidar da recém-nascida durante a noite, também se propõe a ajudar em outras áreas que não lhe seriam de competência, como colocar a faxina da casa em dia e fazer cupcakes para Jonah presentear seus colegas de classe – numa tentativa de aproximá-lo das demais crianças.

A afinidade entre as duas surge de maneira bem natural e logo estão trocando confidências e agindo como velhas amigas. A sequência em que estão no carro, ao som de faixas do icônico álbum She’s So Unusual, lançado por Cindy Lauper em 1983, ganha ainda mais importância se prestarmos atenção às letras das canções, que transitam da simples ideia de que “garotas só querem se divertir” à constatação de que “durante a noite inteira, estarei acordada e estarei com você”.

Se passei 90% do filme imaginando que a trama era apenas simples (sem deixar de ser funcional), que não haveria nenhum tipo de surpresa, os momentos finais me fizeram repensar tal opinião. Existe uma reviravolta que, após descoberta, pode até parecer óbvia em algum ponto, mas que me fez achar a narrativa ainda mais válida e interessante.

Vale conferir.

por Angela Debellis

Filed in: Cinema

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