Crítica: “Yesterday”

Existem três letrinhas que, quando juntas, formam uma expressão que tem em si toda uma carga de inerente reflexão: “E se”. A surpreendente trama de “Yesterday” (Yesterday) incita o público a pensar em como seria o mundo em que vivemos se uma das maiores bandas da história da música nunca houvesse existido. E se (olhas elas aí!) o mundo não tivesse conhecido The Beatles?

Apesar do roteiro de Richard Curtis girar em torno das canções dos quatro rapazes de Liverpool e ter cenas com icônicas melodias como pano de fundo, o longa dirigido por Danny Boyle não é um musical propriamente dito (muito menos um documentário), mas uma comédia romântica e, como tal, cumpre muito bem seu papel.

Jack Malick (Himesh Patel, ótimo) é um aspirante a estrela da música, cujas composições não conseguem alçar voos mais altos do que os palcos de pubs locais com plateias diminutas que não se importam com sua presença – exceção feita para seu fiel (e bem restrito) grupo de amigos que até tenta dar uma força, mas também não acredita de fato em seu potencial.

A única que demonstra interesse verdadeiro por seu trabalho e desejo de seguir carreira no ramo musical é sua amiga / agente / candidata a grande amor Ellie Appleton (Lily James, adorável). É ela que o incentiva a não desistir do sonho, mesmo quando a realidade mostra que seu futuro é mais provável de criar raízes no pequeno mercado em que trabalha como vendedor.

Ao retornar para sua casa em uma noite chuvosa, Jack é atropelado por um ônibus. Ao mesmo tempo, um inexplicável apagão deixa o mundo inteiro – literalmente – às escuras por 12 segundos. Quando tudo volta ao normal, o protagonista perceberá que algumas mudanças drásticas aconteceram, mas que apenas ele é capaz de se lembrar delas, sendo a mais explorada na narrativa, a não existência dos Beatles.

É a grande oportunidade de Jack tornar-se o astro que ele sempre sonhou, ao apresentar como composições de sua autoria, canções clássicas que vão da que dá nome ao filme a “Let it be”, passando por “A Hard Day’s Night” e “Hey Jude” (esta, rendendo um dos momentos mais divertidos do filme – já visto em trailer divulgado anteriormente -, com a participação do cantor Ed Sheeran).

Vale dizer que os fãs mais atentos da banda deverão perceber, além das citações escancaradas, outras mais sutis entre alguns diálogos, e esses easter eggs são bem bacanas e condizentes com os momentos em que surgem na narrativa.

A partir desse ponto, o que vemos é a história habitual do mocinho que tem a chance de mudar de vida, mas que questiona sua própria moral – ainda que mais ninguém possa fazê-lo por  não ter acesso aos elementos que o fazem sentir tal culpa. Para acrescentar dúvidas em sua mente, há Debra Hammer (Kate McKinnon exagerada, mas dentro do esperado para a personagem), empresária que tem o dinheiro como senhor absoluto e que fará qualquer coisa para lançar o álbum que, segundo ela, mudaria a história da música.

Embora não tenha reviravoltas muito inesperadas (fora uma sequência próxima ao final do longa, que serve mais como uma belíssima homenagem e que deve causar alguns olhos marejados, principalmente entre os admiradores do grupo de músicos britânicos), “Yesterday” consegue se sustentar de maneira tão leve e agradável, que não é necessário muito mais do que ele apresenta para fazer com que a plateia torça pela felicidade e êxito de Jack.

Embarque em seu Submarino Amarelo e vá para os cinemas conferir.

por Angela Debellis

Filed in: Cinema

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