Direto da Toca: Participamos de bate-papo com Leandro Karnal sobre a animação “Soul”

Quase um mês após ser disponibilizada no Disney Plus, “Soul” segue como uma das melhores opções para se assistir na plataforma e já começa a conquistar seus primeiros (e merecidos) prêmios.

Na manhã de hoje, tive a oportunidade de participar de um interessante bate-papo com o professor / historiador Leandro Karnal, cujo tema “O Melhor da Vida” rendeu excelentes e muito necessárias reflexões – assim como já aconteceu após eu assistir à nova animação da Disney / Pixar.

Durante a conversa, Karnal destacou as semelhanças da produção com outros trabalhos da Disney/Pixar, como “Divertida Mente”, “Up – Altas Aventuras” e “Monstros S.A.”, que evocam a possibilidade de perceber quem você é, suas vozes internas e medos. Em “Soul”, não há uma leitura moral da vida após a morte, mas a percepção da consciência do indivíduo.

Sem citar nenhum tipo de spoiler – ainda que a estreia já tenha acontecido há algum tempo – é possível dizer que o historiador citou várias vertentes da filosofia e da literatura para exaltar a beleza do roteiro escrito por Pete Docter, Kemp Powers e Mike Jones, que conseguiu retratar assuntos delicados como o fim da vida de maneira exemplar, para o público em geral, sem que haja a necessidade de se ter um profundo conhecimento prévio de grandes obras filosóficas.

Também houve espaço para falar sobre a importância da representatividade dos personagens e da cultura negra de Nova York, assim como a necessidade de se perceber que, mais do que passar a vida atrás de fama e brilho, é fundamental perceber quem somos de fato, os elementos que nos transformam em pessoas tão singulares, além de exercer a paixão em tudo que realizamos.

A “normalidade” do protagonista Joe Gardner, que não tem nenhum super-poder e conta com uma aparência “comum”, foi outro ponto levantado. E é justamente esse personagem tão simples que vai descobrir as coisas mais extraordinárias, no decorrer da narrativa.

Karnal afirmou gostar de obras que são signos abertos, com propostas que podem ser apresentadas para crianças que se divertirão, assim como filósofos conseguirão refletir a respeito. Uma história que cativa públicos diversos, com cada um se apropriando do que lhes compete no momento. E essa também foi sua percepção sobre “Soul”.

Sobre propósitos – tema muito importante na animação – foi dito que o esvaziamento de sentidos faz com que percamos algo essencial, já que ao abrir mão de questionar, acabamos nos tornando sem sentido. Há de se entender que não somos folhas em branco, mas também não somos marionetes puxados por ações alheias. “Você não é tão livre quanto supõe, mas certamente, não é tão escravo quanto outros querem fazer crer dizendo que é assim, sempre foi, é a natureza, é o sistema, e assim por diante”, declara o historiador.

O debate levou ao tema “Excesso de Positividade Tóxica” e a importância de se educar para que desde cedo tenhamos a noção da finitude da vida. Imaginar que alguém deve ser submetido apenas ao que é positivo é uma maneira de não preparar para a vida. É válido dizer que tudo deve ser feito com parcimônia, não havendo necessidade de se mostrar algo trágico para crianças menores.

O professor cita ainda a expressão “Carpe Diem”, uma das mais importantes de todos os tempos. “Então, se a vida é curta, que todos os momentos sejam significativos. E que cada um consiga construir sua própria história”, conclui.

por Angela Debellis

Filed in: Direto da Toca, TV

You might like:

Crítica: “Abigail” Crítica: “Abigail”
Crítica: “Guerra Civil” Crítica: “Guerra Civil”
Crítica: “Jorge da Capadócia” Crítica: “Jorge da Capadócia”
Crítica: “Névoa Prateada” Crítica: “Névoa Prateada”
© 5819 AToupeira. All rights reserved. XHTML / CSS Valid.
Proudly designed by Theme Junkie.