Direto da Toca: Um resumo do que aconteceu na 93ª edição do Oscar

Em um mundo que teve que se adaptar de um dia pra outro a uma realidade completamente diferente, devido à pandemia de Covid-19, são poucas as coisas que conseguem se manter sem nenhuma “rachadura”. A cerimônia do Oscar não está nessa lista.

Com a proposta de fazer uma cerimônia mais leve (ou menos “engessada” como boa parte da crítica adora dizer), o diretor Steven Soderbergh, que carrega uma vitória e duas indicações em sua bagagem, entregou um evento de três horas de duração (que em parte ocorreu no palco do Dolby Theater, com a entrega das estatuetas feita na Union Station – estação de trem no centro de Los Angeles). Mas, no geral, a sensação é de que não foi possível esconder o ar de dúvida no rosto de boa parte dos que dele participaram. Afinal, o que eles estavam fazendo ali?

Particularmente, algo que me causou muita estranheza foi o fato de terem mudado a ordem de anúncio das 23 categorias. Melhor Ator Coadjuvante (vencido por Daniel Kaluuya, que tem levado tudo nessa temporada) foi o quarto anúncio, enquanto Melhor Direção (prêmio que, também sem surpresas, ficou para Chloé Zhao) foi o sétimo quesito a ter sua vencedora conhecida.

Mas, nada foi tão surpreendente (no sentido negativo da palavra) quando a inversão que fez com que a categoria “mais importante” da noite, Melhor Filme, fosse anunciada antes de Melhor Atriz e Melhor Ator (essa sim, fechando a premiação de maneira quase expressa e sem emoção, com o não comparecimento do vencedor Anthony Hopkins – que está no País de Gales – sua terra natal – e acabou fazendo um simpático discurso de agradecimento apenas na manhã de hoje, e postado em suas redes sociais.

Não dá para dizer que a 93ª edição do Oscar teve grandes zebras, até porque, em um ano bem atípico, muitos entraram com reais chances de sagrarem-se vencedores, não havendo possibilidade alguma de alguém sair com múltiplos prêmios, visto que o maior vencedor da noite, “Nomadland” teve êxito em três categorias, seguido por outras seis produções que ficaram com duas cada.

Havia uma clara torcida de usuários do Twitter / fãs da Marvel pela vitória póstuma de Chadwick Boseman – o que não seria uma surpresa, já que o ator tem sido laureado em várias outras premiações – mas, diminuir a qualidade da atuação de Anthony Hopkins (que conquistou o segundo Oscar de sua carreira e tem este trabalho, considerado um dos melhores de sua carreira) é ser, no mínimo, injusto.

Assim como parece estranha a revolta explanada na mesma rede social, após o término do evento, daqueles que exigiam que uma homenagem a Boseman tivesse sido feita durante a cerimônia. Embora sua partida surpreendente e precoce tenha sido absolutamente triste, esse não é o padrão do Oscar. Aqueles(as) que partiram no ano que antecede a edição do prêmio são lembrados no momento dedicado a eles(elas) e que, normalmente, já é capaz de causar comoção – ainda mais quando nomes mais conhecidos do público como o do diretor Joel Schumacher, do veterano ator Sean Conery e do próprio Chadwick Boseman têm seus rostos exibidos em tela.

Para fechar, não há como os organizadores do evento terem controle sobre o discurso que cada vencedor fará ao subir ao palco – ainda mais em um ano em que houve uma maior liberdade, sem a limitação do tradicional limite de cerca de 45 segundos de limite – o que pode render momento divertidos / constrangedores como o visto na declaração de Daniel Kaluuya (sobre seus pais terem se conhecido e transado para que ele pudesse nascer), ou a correção feita de maneira “polida” por Yuh-Jung Youn, após Brad Pitt ter errado a pronúncia de seu nome ao anunciá-la como Melhor Atriz Coadjuvante.

Mas, de qualquer maneira, ainda que vencer o Oscar não possa ser algo que defina por completo a carreira de um profissional do cinema, há de se lembrar que, assim como qualquer outra premiação, esta é um reconhecimento ao seu trabalho. O que faz com que a nítida pouca vontade em receber a estatueta de Francis McDormand nas duas vezes em que subiu ao palco acabe sendo, de alguma maneira, até mesmo desrespeitosa, não só com a Academia que a premiou, mas com suas colegas concorrentes, que talvez não tenham outra chance tão cedo de estar na seleta lista de indicadas ao prêmio. Seria menos constrangedor ter dado uma desculpa qualquer para não comparecer ao evento.

Enfim, embora a tentativa de Soderbergh tenha sido de entregar uma cerimônia mais “próxima”, não sei se no final das contas isso funcionou. Assim como o Globo de Ouro naturalmente não parece tão sisudo, o Oscar que é considerada por muitos como a premiação mais importante da temporada, parece estar em dúvidas sobre a manutenção de sua identidade glamourosa, já conhecida dos que a acompanham há anos.

Não deixa de ser triste imaginar que, no ano em que uma animação intitulada “Soul” fez bonito ao conquistar dois prêmios (e ser lembrada por muitos, como uma candidata que, inclusive, faria jus a uma nomeação de Melhor Filme), a cerimônia tenha pecado exatamente em um quesito que pode parecer simples, mas nem sempre o é de fato, ainda mais em tempos estranhos como os quais estamos vivendo: ter “Alma”.

por Ana David

Filed in: Cinema

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