Especial 007: A era de Timothy Dalton (1987 a 1989)

Com a saída de Roger Moore em 1985, após “007 Na Mira dos Assassinos”, mais uma vez era preciso encontrar um novo James Bond para o mundo. Enquanto o astro inglês comandou o papel, vimos um agente secreto com um senso de humor mais leve e irônico em relação aos outros atores que interpretaram o personagem até então.

Agora, era necessário mudar de novo! Para não correr o risco de cometer o mesmo erro de 1969, em que não foi certeiro na escolha do protagonista e colocou George Lazenby, um ator sem as principais características do personagem, o produtor Albert R. “Cubby” Broccoli resolveu adotar uma estratégia diferente.

Buscando um novo rumo para a franquia, ele entendeu que era a hora de voltar às origens, ou seja, ir atrás de um ator que fosse capaz de trazer para o cinema as principais características do James Bond original. Não estou falando de imitar o Sean Connery, mas sim de colocar nas telas o que Ian Fleming escreveu quando criou sua obra prima.

Quem leu os primeiros romances de Bond, percebeu que ele é uma pessoa fria, sombria, áspera e sem o charme que é colocado nos filmes. Em resumo, é um sujeito que não tem medo de usar sua licença para matar quando necessário.

Sabendo disso, Broccoli convenceu Pierce Brosnam (sim! O mesmo que virou o agente secreto na década de 1990) a ser o próximo 007. O irlandês até foi anunciado oficialmente na época, mas teve que recusar o papel na última hora por causa de seus compromissos profissionais com o seriado de TV, “Remington Steele”. Uma pena, né? Mas não tem problema, já que a hora da estrela de “Mamma Mia” tomar o Martini Batido e não mexido ia chegar! Falaremos sobre isso mais para frente.

Sem o seu protagonista nas mãos, o cineasta não perdeu tempo e escolheu Timothy Dalton (Um Conto Quase de Fadas), um ator do País de Gales que ganhava destaque nos teatros britânicos. O curioso é que Dalton quase foi James Bond por duas vezes, mas foi vetado pelos produtores antes de “007 A Serviço Secreto de Sua Majestade” (1969) e “Com 007 Viva e Deixe Morrer” (1973). Na ocasião, a falta de idade o prejudicou. Mais uma prova que tudo tem a sua hora.

DAS PÁGINAS PARA AS TELAS

A escolha de Dalton pode ter parecido estranha no primeiro momento, mas foi coerente com a proposta inicial de Broccoli, de trazer para a telona mais do personagem da literatura. E vemos isso logo no filme “007 Marcado Para a Morte”, de 1987.

Na abertura do longa, em que está acontecendo um treinamento, um agente do MI6 acaba sendo morto e Bond vai atrás do assassino. Após uma perseguição, ele cai de paraquedas em um barco e faz a sua apresentação clássica para uma moça que está ao telefone. As palavras “Bond… James Bond” saem de maneira seca, dura e rápida, bem como o personagem fala nos livros. Para quem se acostumou com o tom sedutor de Sean Connery e Roger Moore, possivelmente se frustrou e achou estranho ao ouvir a rispidez de Dalton.

Apesar das diferenças em relação aos colegas, o galês até que segura as pontas em sua estreia, que conta com uma trama com altos e baixos. Nela, o herói britânico ajuda Georgi Koskov (Jeroen Krabbé), um oficial da KGB que quer desertar. No meio disso, o espião descobre um plano para assassinar desertores e passa a investigar um traficante de armas americano que promete colocar o destino do mundo em jogo.

Já em “007 Permissão Para Matar”, lançado em 1989, vemos de forma mais clara como James Bond pode ser um assassino frio, raivoso e sombrio. Para isso, basta ver como ele mata seu principal inimigo usando apenas um isqueiro.

Depois de dois filmes, Dalton não segue na pele do personagem. Apesar de ter assinado contrato para mais um longa, ele pendura o smoking. A partir daí, a franquia entra no seu maior hiato, ficando mais de cinco anos sem lançar uma aventura cinematográfica. Isso se encerra só na metade da década de 1990.

CONTEXTO HISTÓRICO

O que mais atrapalhou Dalton em sua trajetória como Bond não foi sua atuação em si, mas o período de transição política que o mundo viveu no final dos anos 80. Nesse período, aconteceu a queda do muro de Berlim (1989), ato que encerrou a Guerra Fria, conflito entre Estados Unidos e União Soviética que polarizou o mundo por anos e serviu como pano de fundo para a maioria dos filmes da franquia.

E isso prejudicou as aventuras do personagem, já que a maioria das tramas tinha este conflito histórico como principal contexto. É verdade que “Marcado Para Morte” até tem, mas é mais sutil do que os longas anteriores, como  “Com 007 Só Se Vive Duas Vezes”, ainda com Sean Connery como protagonista.

Nele, Bond vai para o Japão investigar o desaparecimento de dois foguetes, sendo um americano e outro soviético. Sua missão é descobrir quem realmente está por trás desses sequestros, que podem agravar ainda mais as divergências entre as maiores potências do mundo.

Esse é só um exemplo. Os maiores sucessos da série também usaram o duelo entre Estados Unidos e União Soviética como pano de fundo. Casos de “Moscou Contra 007”, “007 O Espião Que Me Amava” e “007 Contra o Satânico Dr. No”.

Infelizmente, as histórias estreladas pelo ator galês não são tão atrativas, principalmente a de “007 Permissão Para Matar”. Nela, o agente simplesmente vai atrás do traficante Franz Sanches (Robert Davi) para vingar a morte da esposa de Felix Leiter (David Hedison), seu amigo da CIA.

Mas uma coisa é inegável e merece ser dita: Timothy Dalton cumpriu sua principal missão, de personificar o James Bond idealizado por Ian Fleming, ou seja, trazer para o cinema o verdadeiro 007. Com certeza isso tem o seu mérito!

por Pedro Tritto

*Texto originalmente publicado no site CFNotícias.

Filed in: Cinema

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