Desde os primórdios da Marvel como editora de quadrinhos, um de seus maiores trunfos sempre foi retratar super-heróis não como deuses inatingíveis, mas como pessoas reais, com dilemas, traumas e sentimentos profundos.
Foi justamente essa abordagem que mistura o extraordinário com o íntimo que fez o público se identificar com figuras como Peter Parker, que se preocupa tanto com o aluguel quanto com o crime, ou Tony Stark, cujo maior inimigo sempre foi ele mesmo.
“Thunderbolts*”, o novo longa do Universo Cinematográfico Marvel (MCU), honra esse legado ao investir em desenvolvimento pessoal e em temáticas sensíveis, como o luto, a depressão e a busca por redenção. O resultado é um dos títulos mais maduros e emocionalmente ressonantes da fase pós-Ultimato.
É um filme de super-herói baseado na equipe homônima da Marvel Comics. Dirigido por Jake Schreier, traz um elenco de peso composto por Florence Pugh, Sebastian Stan, Wyatt Russell, Olga Kurylenko, Lewis Pullman, Geraldine Viswanathan, David Harbour, Hannah John-Kamen e Julia Louis-Dreyfus.
A trama acompanha um grupo de anti-heróis que se vê preso em uma em uma queima de arquivo orquestrada pela já conhecida Valentina Allegra de Fontaine e precisa colaborar para levar à justiça a mulher que os colocou nessa situação, mesmo carregando consigo passados conturbados e cicatrizes emocionais ainda abertas.
Ao contrário do ritmo acelerado e por vezes superficial de outros trabalhos recentes da Marvel, “Thunderbolts*” aposta em uma narrativa mais contida, que valoriza a jornada interna de seus personagens. A dor, a culpa e a sensação de inadequação são tratadas com uma sensibilidade rara dentro do gênero, ainda que por meio de metáforas e situações alegóricas típicas de um universo de superpoderes. A produção entende que, por trás de cada uniforme ou escudo, existe uma mente fragilizada tentando encontrar sentido no caos.
É nesse contexto que Yelena Belova, interpretada mais uma vez por Florence Pugh, se destaca como o fio condutor emocional da obra. A atriz entrega uma performance comovente, alternando com maestria momentos de vulnerabilidade e força. Sua dor, muitas vezes silenciosa, guia a trama e serve como espelho para os demais personagens cada qual enfrentando seus próprios fantasmas. A relação entre os membros do grupo é construída com cuidado, revelando camadas emocionais complexas que fogem do preto e branco típico de heróis e vilões.
Embora os efeitos visuais tenham seus tropeços, com algumas cenas de ação que poderiam ser mais polidas , esses deslizes não comprometem a experiência geral. Ao contrário de produções como “Mulher-Hulk” ou “Thor: Amor e Trovão”, em que os efeitos tiravam o público da imersão, “Thunderbolts*” consegue equilibrar seu espetáculo visual com a carga dramática que a história exige.
No fim das contas, este é um acerto raro em um momento de reinvenção do MCU. Mais do que um filme de ação, é uma obra que se preocupa com seus personagens, com seus traumas e suas motivações, algo que a Marvel, como casa criativa, sempre soube fazer como ninguém.
“Thunderbolts*” é, sem dúvida, um dos melhores longas do estúdio desde “Vingadores: Ultimato”, e muito disso se deve à coragem de olhar para dentro, e não apenas para o céu cheio de explosões.
por Marcel Melinsk – especial para A Toupeira
*Título assistido em Cabine de Imprensa promovida pela Walt Disney Studios Br.
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