Uma guerra contra a guerra, idealista e insana, de camponeses unidos pela religião, convictos de que a fé poderá enfrentar canhões, marcam o cenário de “Vencer ou Morrer” (Vaincre ou Mourir).

Esse grupo de camponeses, armados com enxadas e foices, alheios ao propósito da Revolução Francesa, declaram guerra contra a nova ordem, e levam no peito o símbolo do Sagrado Coração. É uma luta fadada à derrota, ao derramamento de sangue, à morte.

Seu comandante Charette (Hugo Becker), ex-oficial da marinha, oscilou e quis fugir da responsabilidade imposta pelos seus conterrâneos, de seguir no comando por terra da nova tropa de Vendée.

Parte interessante da narrativa são os conflitos de Charette, mostrados em belas cenas teatralizadas que se distanciam do realismo, em momentos que ele parece estar preso com sua consciência.

O filme tem um alto padrão de fidelidade histórica, a ambientação é impecável, e tal perfeição, segundo consta, é devido aos cenários reais onde as cenas foram gravadas. Suas imagens, quase sempre violentas, são de grande beleza e incontestáveis.

Não se trata de uma história muito compreensível para o grande público. Podemos crer que as nuances da Revolução Francesa nos chegam de forma alegórica, como tudo, e este fragmento pode parecer incógnito e sem razão. Fato este a se construir nas diferentes sinopses espalhadas na mídia que não vendem o longa como ele é.

Há uma dificuldade em afirmar qualquer coisa, se não se é, no mínimo, historiador. Mas, mesmo com a incompreensível e sanguinária batalha, é uma obra muito bem cuidada, de alta qualidade técnica, detalhada e com cuidadosa direção.

É um fragmento de uma história muito maior. Como se, em um livro, retirássemos apenas um capítulo, algumas folhas que poderiam ser puladas numa leitura geral, mas que se lidas, engrandeceriam muito mais o conteúdo.

Com roteiro e direção de Vincent Mottez, “Vencer ou Morrer” é uma produção de grande valor, que entra definitivamente para as listas de filmes históricos indispensáveis.

por Carlos Marroco – especial para A Toupeira

*Título assistido em Cabine de Imprensa Virtual promovida pela Kolbe Arte.