Crítica: “A Escolha”

O drama “A Escolha” (Take It or leave It / Võta Või Nata), dirigido por Liina Triškina-Vanhatalo, mostra a trajetória de Erik (Reimo Sabor) ao descobrir que é pai e assumir a criação solitária de sua filha Mai (Nora Altrov), ainda recém nascida.

A trama tem o bebê como a ferramenta de amadurecimento de Erik, ao se ver sozinho com Mai no hospital, ao ter que escolher o nome, em assumir a guarda, ao conciliar o trabalho, ao tentar engatar uma nova relação, ao contar com a ajuda dos pais, ao optar por fazer só.

A produção estoniana é composta por diálogos curtos e uma valorização dos sons e ambiente, como o constante choro da bebê durante os primeiros atos que representam as dificuldades enfrentadas por Erik na construção do elo paternal. Percebemos a evolução do personagem principal e o estreitamento da relação com a filha pela organização do ambiente à sua volta, inicialmente com uma rotina desregrada em uma casa bagunçada – já no último ato as sutis mudanças são perceptíveis.

A narrativa apresenta a justificativa pelo abandono do bebê por Moonika (Liis Lass), contudo o foco principal é a paternidade solo. Um ponto positivo é a imparcialidade que a história demonstra: em nenhum momento a mulher é demonizada por não aceitar a criança. Contudo, não podemos esquecer que o que é vivido por Erik é uma realidade enfrentada por um grande número de mulheres ao decorrer da história da humanidade, mães solo não são nenhuma novidade, então o pai solo talvez não devesse ser tratado como alguém especial.

A atuação de Reimo Sabor não é dotada da emoção que histórias como essa exigem, entretanto prefiro pensar que essa é a proposta da direção. Histórias como “A Escolha” fazem lembrar outros dramas – que apesar de conceitos diferentes – trazem a paternidade como discussão central, como em “A procura da felicidade”, estrelado por Will Smith, e “Uma lição de amor”, que comprovou o indiscutível talento e  versatilidade de Sean Penn.

Vale lembrar que o drama foi escolhido para representar da Estônia na categoria de Filme Internacional na cerimônia do Oscar de 2019, mas não foi um dos selecionados. O produtor do longa Ivo Felt também já foi indicado ao Oscar e ao Globo de Ouro na categoria de Melhor Filme Internacional em 2015 por “Tangerines”.

“A Escolha” tem um final um aberto, talvez nem tanto, que coloca em risco a construção de uma história honesta e coerente.  Aproveite que o filme já está disponível no Cinema Virtual e descubra até que ponto um pai é capaz de ir quando sente que a relação com sua filha está ameaçada.

por Carla Mendes – especial para A Toupeira

*Título assistido via streaming, a convite da Elite Filmes.

Filed in: BD, DVD, Digital

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