“A Sniper Russa” (Battle for Sevastopol) trata sobre uma franco-atiradora ucraniana da Segunda Guerra Mundial, integrante do exército russo e de excepcional precisão com o fuzil. Chegou a ser famosa internacionalmente, inclusive na Alemanha nazista e nos Estados Unidos da América. É um relato apologético, de uma lenda cujos méritos muito provavelmente foram exagerados, tanto durante a guerra, quanto neste filme.
Uma pergunta prévia tem a ver com a condição de ser uma pessoa que mata outras, desde posições ocultas. Será que existe alguma justificativa ética para valorar tais ações? O filme procura-se explicar que sim: neste caso, a Rússia tinha sido invadida traiçoeiramente pelo exército alemão, matando pessoas por milhares e destruindo cidades em modo implacável.
Para se defender era absolutamente necessário matar os militares fascistas. Aliás, tratava-se de “matar para que o mundo não sucumbisse ante um perigo extremo.” Lyudmila Pavlichenko (Yuliya Peresild) – dela se trata – fazia isso, com técnica exímia.
Nas duas horas de duração, há um progredir desde um relato simples, e bastante básico cinematograficamente, até chegar a uma série de cenas e sequências que descrevem os duros treinos prévios à guerra, os enfrentamentos territoriais, os bombardeios, a evacuação caótica de Sebastopol.
Um ataque a soldados que celebravam o Natal, uma menina recitando em forma pateticamente raivosa contra os nazistas, um quase assassinato acidental de outra menina, um casamento frustrado, um enfrentamento direto e com suspense dela com outro franco-atirador inimigo etc.
Também está a atração que ela exercia nos homens, alguns atuando em forma grosseira, outros simplesmente desejando-a ou ficando apaixonados. E, finalmente, a aparição do amor. Uma tomada em primeiríssimo primeiro plano muito eloquente e que é elogiável ao igual que os belos brancos flocos de neve e o vermelho que se destaca em certas situações. Mas são escassos esses primores.
As situações, cada uma com suas próprias demandas narrativas, são abordadas de modo apropriado. Isso significa que há esforços extremos, sangue, corpos dilacerados em forma brutal, decisões militares drásticas, suspense e tensão e romances sucessivos bem interpretados e com boa fotografia.
Como dito, isto último é apenas ocasional porque em geral não há muito para elogiar tecnicamente, embora seja uma produção com cenas que tem bastante investimento. Na música, só sobressai um tema musical que traz romantismo. A edição deixa a desejar, pois o relato vai alternando anos (1941-1942) e locais (na Rússia e nos Estados Unidos da América), mas resulta incompleto em determinados pontos.
Não carece de reflexões, implícitas e explícitas. Por exemplo, outro militar diz à protagonista: “A guerra não é só morte. Também é um tipo de vida. Se não consegue pensar em algo pelo qual viver, você será morta.” Assim, vai aparecer não apenas a morte, mas também a esperança de ter um filho, prolongação da vida.
Outro assunto que está presente no filme dirigido por Sergey Mokritskiy é a índole feminina em um exército e se os demais a conseguem perceber como tal. Além disso, há uma situação na qual Pavlichenko deve cumprir seu dever patriótico, o que deixaria para trás sua condição de mulher; uma escolha muito difícil.
Chega-se, assim, a um final comovedor. A biografia de ação “A Sniper Russa”, que estreia na plataforma de streaming Cinema Virtual, fornece material para ser criticada, porém também elogiada. Cada espectador escolherá o que mais lhe interessou, impactou, agradou ou desagradou.
por Tomás Allen – especial para A Toupeira
*Título assistido via streaming, a convite da Elite Filmes.