Crítica: “Abigail”

Algumas combinações são improváveis de dar certo, à primeira vista. A esse grupo, pareceu-me possível incluir a que visava juntar dois temas tão clássicos, quanto distantes: vampirismo e balé. Mas, felizmente, alguém se propôs a fazer essa mistura e provar que elementos tão distintos funcionam muito bem juntos.

A trama de “Abigail” (Abigail) nos apresenta a protagonista (interpreta por Alisha Weir) que, aos 12 anos, mostra-se uma exímia bailarina. Herdeira de uma família abastada e poderosa, a jovem torna-se um alvo fácil para um grupo de sequestradores, que vê em sua captura, a oportunidade de ganhar 50 milhões de dólares, sem nenhum esforço.

Sob as ordens do misterioso Lambert (Giancarlo Esposito), a equipe invade a mansão onde a garota vive com o pai (vivido por Matthew Goode), e a faz refém, sendo levada até uma antiga mansão de aparência amedrontadora, que esconde muito mais do que teias de aranha e poeira em seu interior.

Sem correr o risco de soltar um spoiler, já que tal informação é o que sustenta o material de divulgação do longa – incluindo seu trailer – a partir do ponto em que os bandidos descobrem que Abigail é uma vampira, a ação toma conta da tela de cinema. E isso acontece de um jeito surpreendentemente eficaz, entregando tudo que se espera de uma produção cuja classificação indicativa foi estabelecida para maiores de 18 anos.

Tudo funciona no filme dirigido por Matt Bettinelli-Olpin e Tyler Gillett. O que tem faltado em muitas produções atuais de terror encontra seu lugar ao sol (talvez essa não seja a melhor expressão, já que a narrativa envolve uma vampira!) no roteiro de Stephen Shields e Guy Busick, que não se exime de mostrar – de maneira explícita – os resultados da ação dos criminosos, quando em confronto com Abigail.

As decisões técnicas são brilhantes, resultando em sequências memoráveis – como a apresentação de balé a dois e a descoberta de um novo ambiente no esconderijo, que acontecem em determinados pontos da história. Mas, o maior destaque fica para os recursos práticos, que incluem muitos litros de sangue cenográfico e uma competente maquiagem, que lembra as propostas de grandes títulos dos anos 1980 e 1990, porém, com maior qualidade visual.

É claro que parte do êxito se dá pelo elenco que consegue fazer de personagens convencionais (entenda-se clichês, sem nenhuma vergonha disso), figuras interessantes o bastante para ganhar a simpatia ou a aversão do público. Com personalidades, atitudes e trajetórias díspares, Joey (Melissa Barrera), Frank (Dan Stevens), Sammy (Kathryn Newton), Rickles (William Catlett), Peter (Kevin Durand) e Dean (Angus Cloud) formam um disfuncional grupo que precisa se unir para tentar escapar com vida da fome da vampira eternamente adolescente.

Se “M3GAN” marcou 2023 com sua dancinha viral, é a vez de “Abigail” entrar no imaginário popular, ao mesclar a delicadeza dos passos de balé (em especial durante a execução da fantástica obra de Tchaikovsky, “O Lago dos Cisnes”), à ferocidade contida nas predadoras criaturas seculares que se alimentam de sangue. E isso, Alisha Weir faz de modo irretocável (e sanguinária).

por Angela Debellis

*Título assistido em Cabine de Imprensa promovida pela Universal Pictures.

Filed in: Cinema

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