Crítica: “Abominável”

Simplicidade e empatia. Duas palavras que parecem cada vez mais distantes da sociedade atual, quando nenhum resultado é considerado satisfatório (por mais elaborado e eficiente que seja) e a preocupação com o próximo é considerada coisa fraqueza.

Indo na contramão dessas tristes constatações, “Abominável” (Abominable) chega aos cinemas com uma história absolutamente simples em que há clara dominância da capacidade de saber olhar ao seu redor e enxergar que o mundo não gira em torno de si próprio – ainda que essa falsa posição seja tão confortável à primeira vista.

A trama passada na China nos apresenta Yi (voz de Chloe Bennet na versão original e Mharessa na versão brasileira), uma jovem que consegue tirar forças da tristeza que sente pela perda do seu pai e lutar pelo objetivo que tinham juntos: conhecer pontos turísticos de seu país. A fim de conseguir recursos para isso, ela executa as mais variadas funções, de passeadora de cães a responsável pelas caçambas de lixo de um restaurante local – ainda que seu porte físico seja diminuto e pouco adequado a tais trabalhos que exigem certa força física.

Embora ame sua mãe (voz de Michelle Wong) e sua avó “Nai Nai” (Tsai Chin) – esta, uma das personagens mais divertidas em tela -, a garota sente-se solitária e é no pequeno refúgio erguido com lençóis, cordões de luzes natalinas e madeiras no topo do prédio em que vive, que ela passa parte do tempo junto às memórias do pai. Também é lá que vai encontrar uma criatura lendária que mudará sua vida.

Nomeado por Yi como Everest, a tal criatura é um Yeti (errônea e popularmente conhecido como “Abominável Homem das Neves”) que fugiu de um laboratório onde era mantido em cativeiro, onde teria como destino servir de atração bizarra a figuras da alta classe e objeto de estudos a cientistas inescrupulosos. Ou seja, no final das contas – e como parece usual em inúmeras produções, abominável mesmo é o ser humano.

Junto a seus vizinhos Peng (Albert Tsai) e Jin (Tenzing Norgay Trainor), Yi partirá em uma inesperada e mágica viagem para levar o novo amigo fofinho de volta ao lar, no Monte Everest. Nesse momento, está formado o quarteto mais adorável dos últimos tempos e que, cujos elementos, cada um a seu modo, tem tudo para conquistar o coração dos espectadores dispostos a embarcar com eles na aventura de suas vidas.

A animação dirigida por Jill Culton – que também é roteirista – e Todd Wilderman é belíssima. Seja pelas mais variadas texturas da natureza (a sequência passada em um campo de flores amarelas é maravilhosa) ou pela ajuda de elementos da rica cultura chinesa (incluindo uma tocante cena passada no desfiladeiro em que se localiza o Grande Buda de Leshan, maior estátua representativa de Buda do mundo), tudo converge para oferecer um produto visualmente bem feito.

Já na área emocional, a produção também cumpre lindamente seu papel transitando da risada franca de Everest ao descobrir prazeres simples como o sabor de um refrigerante à inocência infantil de Peng; da nova percepção de valores de Jin à persistência e crescente confiança de Yi. Dá para se sentir representado em vários momentos da narrativa.

Ainda cabe dizer que pelo lado dos antagonistas, a animação traz uma das figuras mais execráveis de títulos do gênero, responsável por várias reações de revolta durante a projeção. Dizer mais do que isso é tirar parte do impacto que deverá causar em boa parte da plateia.

Também fica a dica para quem for mais sensível à música: Pode preparar os lencinhos, porque um violino é um dos artefatos mais importantes da história de Yi e porque há uma cena impecável que acontece ao som de “Fix You”, canção do Coldplay que comove por sua letra e melodia.

Imperdível.

por Angela Debellis

Filed in: Cinema

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