Londres, 1912. O início do século XX é marcado pelo surgimento da União Nacional pelo Sufrágio Feminino, que reivindica o direito de voto às mulheres britânicas. Não se trata de uma aula de história, pelo menos não literalmente, mas do filme (Suffragette), que chega hoje, 24 de dezembro aos cinemas.
O drama conta a história de Maud Watts (Carey Mulligan), que trabalha em uma lavanderia junto com o marido Sonny (Ben Whishaw) para sustentar o filho George. Assim como milhares de mulheres, a operária passa a refletir sobre seu atual estado – e a querer mudá-lo – quando vê uma companheira de trabalho entre as manifestantes de um protesto.
A revolta das mulheres é incitada, durante todo o longa, pela presença de Emmeline Pankhurst, que aparece na maior parte das vezes em fotos, recortes de jornais e na própria fala das personagens. As aparições de Meryl Streep, que representa a figura real imprescindível para que o movimento se tornasse forte, são escassas, porém marcantes.
Inicialmente uma mulher passiva, oprimida e que exerce apenas os papéis de mãe, esposa e empregada, a protagonista Maud se torna ao longo do filme uma revolucionária que se mostra fiel aos ideias da causa feminina. A boa atuação de Carey faz com que a transformação de sua personagem seja sutil ao mesmo tempo em que é clara e emocionante.
Em meio ao crescente debate sobre o feminismo, reforçado atualmente pelo advento das redes sociais, a produção mostra como o grupo de mulheres se organizava em uma época em que os dispositivos tecnológicos eram inexistentes. Neste cenário, por meio de encontros secretos e noturnos, as personagens Violet (Anne-Marie Duff) e Edith Ellyn (Helena Bonham Carter), ambas fictícias, assim como Maud, cumprem a função de ligar a realidade das lavadeiras aos pensamentos do movimento pelo sufrágio.
Outra figura real, que apesar de não receber muita atenção, exerce papel fundamental para o desfecho, é Emily Davison (Natalie Press), considerada o mártir do movimento sufragista devido ao seu último ato, revelado em cenas reais, ainda em preto e branco.
As sequências de violência verbal, física e sexual vivida pelas mulheres são apresentadas com efeitos visuais muito reais, que chegam a chocar o espectador. As cenas de confronto têm ritmo rápido e dinâmico, composto por planos detalhes que nos aproximam das vítimas, enquanto os momentos vividos individualmente pela protagonista são mais lentos e podem levar, principalmente as mulheres, por motivos óbvios, ao choro.
“As Sufragistas” é uma verdadeira aula de história, que contempla até os que nunca ouviram falar sobre o movimento, e serve para avaliarmos como a luta das mulheres pelos direitos iguais aos dos homens é antiga e, ao mesmo tempo, atual. Retrata com maestria a realidade vivida pelas feministas do século XX, assim como se relaciona profundamente com a realidade das mulheres que ainda buscam por direitos iguais em pleno ano de 2015.
por Kelly Amorim – especial para A Toupeira