Crítica “Barraco de Família”

Muito se fala sobre a falta de histórias originais e o uso repetido de elementos semelhantes, em especial no que diz respeito a produções cinematográficas, televisivas ou literárias. Mas, em alguns casos, isso não chega a ser um problema, afinal, verdade seja dita: a vida cotidiana da grande maioria das pessoas não é o que se pode chamar de empolgante, na maior parte do tempo e não renderia roteiros originais aclamados.

O maior acerto de “Barraco de Família” é levar às telas essa rotina comum que norteia a trajetória da população em geral. Aquela que faz com que vivamos diversas histórias ao lado de familiares e que se mostram pilares importantes para a formação de nosso caráter (para o bem ou para o mal).

A trama da comédia dirigida por Maurício Eça gira em torno de Kellen (Lellê), ex-moradora da fictícia comunidade de Nova Miami, localizada na Zona Leste de São Paulo, que alçou fama no mundo da música, tornando-se uma bem-sucedida cantora de funk.

Mas, com a fama, também veio a tomada de decisões equivocadas, como o afastamento da família (que, nesse caso, não merecia ser colocada de lado) e a confiança em Rick (Hugo Gloss), empresário mau-caráter que não poupará esforços para fazer com que a garota se dê mal – se isso puder lhe beneficiar de alguma forma.

Esquecendo-se da triste constatação de estarmos sendo vigiados 24 horas por dia (quase como se, devido à facilidade de realizar filmagens e fotos com smartphones, vivêssemos em um trágico Big Brother da vida real), Kellen acaba dando uma problemática declaração quanto ao seu passado na periferia, o que faz com que ela sofra do grande mal da atualidade: o famigerado cancelamento virtual.

Para recolocar as coisas nos eixos (entenda-se não perder tudo de bom que a popularidade lhe proporcionou), ela aparece de surpresa na casa dos pais, após mais de um ano de distanciamento, a fim de criar conteúdos inéditos para suas redes sociais, que possam devolver a ela o status de alguém satisfeito com o sucesso, mas grato às raízes.

Falando assim, o teor do filme pode parecer exageradamente sério, mas a história ganha divertidos contornos quando os holofotes apontam para Cleide (Cacau Protásio, ótima como sempre), mãe de Kellen. A personagem é a típica matriarca multitarefa, cujas francas iniciativas atingem todos aqueles à sua volta.

Além dela, quem também merece destaque pelo trabalho crescente que vem apresentando no ramo da comédia é Nany People, que interpreta Edna, assessora de imprensa que acompanha Kellen na empreitada para recuperar seu nome frente aos fãs. A cena em que sua personagem conversa com a de Cacau Protásio em uma mesa de bar, é uma das mais divertidas do longa.

É claro que não poderia haver um barraco se a família não tivesse mais elementos: Eupídio (Eduardo Silva), o pai boa praça sem nenhum tino para empreendedor; Kleverson (Robson Nunes), o filho mais velho, que não tem o talento reconhecido; Eulália (Lena Roque, que também assina o roteiro junto a Emílio Boechat), a tia “encostada”, que só contribui com comentários nem sempre pertinentes; e Zuleika (Sandra de Sá), a avó que ajuda a manter o equilíbrio familiar.

Pelo lado da “família que o coração escolhe”, Wanderley (Yuri Maçal), ex-namorado que segue apaixonado por Kellen, Jéssica (Jeniffer Nascimento), a melhor amiga de infância; e Donizete (Maurício de Barros), o faz tudo da comunidade que aproveita para se promover através dos mais diversos assuntos. Com direito à participação espcial do cantor Péricles, interpretando a si mesmo.

O roteiro de “Barraco de família” é simples e, até mesmo, previsível. Mesmo assim (e, talvez, justamente por isso), acaba fazendo da comédia – que chega aos cinemas com circuito concentrado nas periferias das cidades de São Paulo e Rio de Janeiro – uma opção bem agradável de se assistir.

por Angela Debellis

Título assistido em Cabine de Imprensa Virtual promovida pela Synapse Distribution.

Filed in: Cinema

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