Crítica: “Ben-Hur”

Ben Hur pôster críticaA rivalidade entre irmãos que causa a ruína da família. Poderia ser a manchete de qualquer telejornal de cunho policial da atualidade, mas é o enredo principal de “Ben-Hur” (Ben-Hur), que volta às telonas sob a ótica de releitura de um dos maiores clássicos do cinema.

A trama original foi apresentada pela primeira vez no livro “Ben-Hur: Uma História dos Tempos de Cristo”, de Lew Wallace, publicado em 1880. Como boas histórias são atemporais, passados alguns anos e gerações, a trineta do autor, Carol Wallace, lança sua própria versão, na qual este longa se baseia.

Apesar de mudanças bastante significativas – principalmente na sequência final – que, mesmo sendo válidas, podem desagradar parte do público -, a essência permanece. O épico trata sobre a necessidade de se fazer justiça através da vingança e até que ponto isso pode trazer ainda mais problemas e dificuldades aos envolvidos.

Judah Ben-Hur (Jack Huston) é um nobre judeu que leva uma vida confortável em Jerusalém. Debaixo do mesmo teto, vive Messala Severus (Toby Kebbell), seu irmão de criação de origem romana, que carrega consigo a marca de ter crenças e ambições diferentes dos demais membros da família que o criou.

O cenário é uma cidade em meio à guerra com o exército de Roma e seu líder, Pôncio Pilatos (Pilou Asbæk), que não hesita em matar pessoas, cujas vidas ganham um “valor” a seu bel prazer, ao fazer contas de quantos judeus equivalem a um romano.

Acusado injustamente de traição, Ben-Hur é separado de sua família e se vê condenado a uma vida de servidão em alto-mar, tornando-se escravo em um navio de batalha. As cenas que mostram sua rotina como remador, que incluem incontáveis chibatadas e um questionável “estímulo” feito através das batidas ritmadas de um tambor, são eficientemente incômodas.

Mesmo quem não viu/leu nenhuma versão anterior da história, é provável que já tenha escutado falar a respeito da icônica “corrida de bigas” e, mais uma vez, ela é um dos pontos altos. Ao optar por fazer a sequência de forma mais realista possível, com a participação efetiva dos atores que passaram por treinamento para aprender a manter o equilíbrio em cima bigas puxadas por cavalos de verdade, o diretor Timur Bekmambetov acertou em cheio e conseguiu transportar para a tela uma veracidade digna de aplausos.

Uma das grandes modificações é a participação de Jesus Cristo (Rodrigo Santoro em um momento grandioso de sua carreira). Se antes aparecia apenas de relance e não tinha diálogos, agora ele surge com mais tempo em cena e uma importância bem maior. Sai o coadjuvante calado para entrar o personagem que tem muito a dizer, ainda que em poucas frases. Jesus deixa de ser “apenas” o Messias, para tornar-se aquele amigo próximo cuja presença e ensinamentos serão fundamentais para os que o cercam.

Com uma duração pouco maior do que a metade da adaptação mais conhecida/premiada, estrelada por Charlton Heston em 1959, e detentora do maior número de estatuetas do Oscar conquistadas – 11 no total -, o filme ganha agilidade sem que isso comprometa a qualidade. O ritmo parece bastante adequado e a atenção do espectador deve se manter durante toda a exibição. Destaque para os cuidadosos trabalhos de figurino e cenografia que vistos em IMAX tornam-se ainda mais grandiosos.

Vale conferir.

por Angela Debellis

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