Crítica: “Branca como a Neve”

“Outra releitura de um clássico dos Irmãos Grimm?” Sim, e dessa vez foi “Branca de Neve e os sete anões” que surge em nova roupagem, porém sem perder a essência. Sob a direção de Anne Fontaine, o conto ganha um tom cômico e mais adulto, em “Branca como a Neve” (Blanche comme Neige), em que vemos uma moça se descobrindo e experimentando de todas as formas os prazeres de vida.

O longa é divido em três partes: “Claire”, “Madrasta” e “Branca de Neve”, respectivamente – nos dois primeiros temos uma visão muito particular de cada personagem.

Na primeira parte vemos Claire (Lou de Laâge): a jovem trabalha como camareira no hotel de seu falecido pai, e como já é esperado, é lindíssima. O local é administrado por Maud (Isabelle Huppert), a madrasta igualmente bela, contudo as mulheres estão em fases diferentes da vida.

Então, o amante de Maud tem um súbita atração por Claire, e assim como no conto dos Grimm, a madrasta é tomada pelo ciúmes e é capaz de qualquer coisa para se livrar da concorrência que a enteada representa.

A garota vai parar em uma casa no meio de uma floresta, no sul da França, onde vivem os gêmeos Pierre e François (ambos interpretados por Damien Bonnard) e o músico Vicent (Vicent Macaigne) e a partir deste ponto seus desejos começam a desabrochar.

No longa foi desconstruído o papel da donzela indefesa que necessita ser salva por um príncipe: ela não encontra anões nem animais falantes, contudo a diretora brinca com o número 7 e Claire tem contatos muito íntimos com sete homens que, de maneiras distintas, ajudam no crescimento da personagem. Uma ressalva é que são tipos comuns, fora dos estereótipos de beleza e alguns deles representam fragilidades.

Assim como a direção o roteiro também é de Fontaine, que comenta os princípios para criação de Claire: “Queria criar um personagem feminino que crescesse e abordasse a sensualidade sem um conceito moralizador ou mortificante”. Durante todos os momentos vemos na protagonista uma mulher livre, que não se prende ao que é “socialmente aceitável para uma mulher”. Vale lembrar que Anne e Lou já trabalharam juntas em “Agnus Dei”.

Isabelle Huppert, considerada uma das melhores atrizes francesas da atualidade já recebeu uma indicação ao Oscar de Melhor atriz por “Elle”. Esse ano protagonizou uma vilã totalmente perturbada em “Obsessão” e está esplendorosa como Moud.

Anne revelou que pensou imediatamente em Huppert para o papel: “Você nunca sabe se é amor ou ódio o que ela sente, sem nunca caricaturar ou ‘psicologizar’, isso traz a história em seu sentido clássico quanto à modernidade”.

A fotografia e a iluminação estão fabulosas, há uma brincadeira implícita com tons de vermelho durante a trama que fica impossível não perceber. Uma comédia leve, sensual, com toda delicadeza e charme de bons filmes franceses.

Ótima opção tanto para quem gosta dos clássicos quanto para quem procura por reinvenções.

por Carla Mendes – especial para A Toupeira

Filed in: Cinema

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