Tendo como destaque o fato sair do eixo mais popular – quando se pensa na escolha de locações no território brasileiro – e ter sido inteiramente rodado no Mato Grosso do Sul, “Do Sul, a Vingança” chega aos cinemas com uma proposta repleta de boas (mas, por vezes, exageradas) intenções e um prêmio na bagagem, conquistado no Los Angeles Film Awards 2025.
Escrito por Edson Pipoca e Fábio Flecha (este, também à frente da direção e um dos produtores junto a Tânia Sozza), o longa nos apresenta Lauriano Cortez (Felipe Lourenço), escritor carioca que fez fama escrevendo sobre crimes reais – mais especificamente, delitos cometidos por milícias e facções criminais.
Com o prazo de entrega de um novo trabalho prestes a expirar, ele aceita a sugestão de Victor Bautista (Leandro Faria), deputado corrupto que cumpre prisão domiciliar (obviamente um uma mansão confortável) e vai em busca de uma figura que poderá ser útil à criação de sua livro inédito.
Jacaré (Espedito Di Montebranco) é um facilitador da entrada de coisas ilegais pela fronteira que liga Mato Grosso, Bolívia e Paraguai. Muito respeitado na região, ele segue o pacto firmado há mais de cem anos por moradores locais, que proíbe o tráfico de armas. O que o leva a fazer perigosos inimigos cujos interesses são contrários aos seus.
Durante a viagem de Lauriano, vemos a representação em imagens de vários fatos narrados por Jacaré e, avalizando o ditado: “Quem conta um conto, aumenta um ponto”, conforme a narrativa avança, pomos em dúvida a veracidade de algumas dessas lembranças.
Isso ocorre pelo excesso de informações que, se beiram o improvável, também ajudam a dar corpo à história. A execução em tela nem sempre é primorosa, mas, uma vez que se aceita a limitação do conteúdo, torna-se aceitável (obviamente, dentro da condição de ser uma obra voltada ao chamado cinema marginal, com seu estilo experimental e que foge do tradicional).
O escritor descobrirá que há muito mais do que supõe, à primeira vista, nos bastidores do que deveria ser apenas uma captação de conteúdo para seu livro. Uma história de violência, ânsia pelo poder e, acima de tudo, como o título deixa claro: vingança.
Definir a produção como “faroeste / ação / comédia trash” talvez pareça confuso a quem não o assistiu, mas essa talvez seja a melhor forma de explicar o que se vê em cena. Até mesmo os personagens reagem a determinados absurdos e resumem a algo que aconteceria em um Filme B da década de 1980.
Algumas decisões criativas parecem questionáveis, em especial no que diz respeito à representação de algumas figuras em tela. O que é para ser exagerado caminha perigosamente na linha de tornar-se ofensivo (o que não costuma ser uma boa ideia, ainda mais na atualidade).
“Do Sul, a Vingança” deixa a sensação de ter ciência de suas imperfeições e de como pode fazer delas um fator positivo em sua criação. O ar quase teatral imprime no longa uma estética diferenciada e talvez seja atrativa o bastante para dar uma chance a ele.
por Angela Debellis
*Título assistido em Cabine de Imprensa Virtual promovida pela Kolbe Arte.
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