Por mais que existam óbvias diferenças entre os roteiros dos filmes de terror, uma coisa é onipresente quando se tratam de narrativas envolvendo adolescentes: a extrema capacidade de fazer escolhas equivocadas, mesmo que isso esteja bem claro para eles. Mas, se não fosse assim, é provável que não haveria tantas produções do gênero.
É o que vemos em “Fale Comigo” (Talk to me), longa independente que ganhou inesperada notoriedade e chega aos cinemas brasileiros sob a imponente promessa de ser “o melhor filme de terror do ano” – o que está longe de ser uma verdade absoluta.
Com a cidade australiana de Adelaide como cenário, a trama escrita por Bill Hinzman e Danny Philippou (este, também à frente da direção junto ao irmão Michael) tem como protagonista, Mia (Sophie Wilde), jovem que, após o inesperado falecimento da mãe, precisa lidar com a aceitação de uma perda irreparável e os efeitos advindos do luto – o que nunca é uma tarefa fácil.
Para isso, conta com a ajuda dos amigos Jade (Alexandra Jensen) e Riley (Joe Bird), dupla de irmãos que, junto à mãe Sue (Miranda Otto) oferecem algum conforto a ela, durante aqueles períodos terríveis, quando quem perde um ente querido se pega questionando a justiça do mundo e sua parcela de culpa no ocorrido.
Uma das crises de Mia acontece no dia do aniversário de morte de sua mãe e culmina na decisão de participar de uma reunião com colegas – nem tão próximos – de escola, durante a qual se colocam à mercê de um artefato (neste caso, a mão embalsamada de um suposto vidente que teria capacidade de se comunicar com o oculto), cuja função é colocá-los em contato direto com pessoas que já partiram.
Se isso já não fosse estranho o suficiente, ainda existe o agravante de que essa conexão sobrenatural (bem mais eficaz do que o velho tabuleiro de OUIJA ou o lápis rotativo de “Charlie, Charlie”, diga-se de passagem) parece exercer uma irresistível atração sobre os personagens, que passam a querer adentrar cada vez mais nesse mundo. Esqueça as drogas “tradicionais”, agora o que entorpece e vicia é se deixar possuir por espíritos. Tudo, devidamente registrado por celulares e postado em redes sociais, é claro.
Até que regras – nem tão complicadas assim – são quebradas e graves consequências devem ser encaradas. Esse é o ponto de partida para cenas explícitas (algumas bem funcionais, outras mais difíceis de serem aceitas), que conduzem a história a um patamar que se equilibra entre a competência de se transformar uma obra de baixo orçamento em algo interessante o bastante para ganhar os holofotes, e a confiança de se manter em terreno conhecido, resultando em algo que parece já ter sido visto antes.
O início de “Fale Comigo” é muito promissor – inclusive, no que diz respeito ao prequel que já está pronto, apenas aguardando a repercussão do longa nas telonas, mas no decorrer de seus 95 minutos de duração, há decisões, no mínimo, contestáveis.
No geral, o que mais merece destaque é a interpretação de Sophie Wilde, em sua estreia nos cinemas (que também pôde ser vista recentemente em “O Portal Secreto”, que mesmo tendo sido realizado depois, entrou em cartaz primeiro).
Ao se aproximar do final, a produção opta por caminhos que devem dividir opiniões, principalmente quanto à questão da velocidade e facilidade com que algumas coisas são resolvidas. Sim, a supressão da crença é necessária (ainda mais em títulos de terror), mas há coisas que ultrapassam demais esse limite, o que se torna um grande problema, já que a história é calcada em cenário e figuras comuns.
De todo modo, embora a conclusão pareça evidente, ainda contém elementos que chegam a surpreender. Grande aliada em diversos momentos, a simplicidade pode ser naturalmente assustadora.
por Angela Debellis
*Título assistido em Cabine de Imprensa promovida pela Diamond Films.