“Fogo Contra Fogo” (Kalushi), dirigido por Mandla Dube, retrata a história de Salomon Kalushi Mahlangu (Thabo Rametsi), um jovem vendedor ambulante, que após a Revolta de 16 de junho de 1976, em Soweto, se junta ao movimento de libertação sul-africano. Ao se exilar e receber treinamento para combate militar, é capturado pela polícia e responderá por dois assassinatos cometidos por um de seus parceiros. Agora, ele terá que provar sua inocência, ou ser condenado a pena de morte.
O filme é baseado em uma história real e narra um período extremamente delicado, marcado principalmente por uma série de protestos e a brutalidade policial. Naquela época, grande parte das revoltas era liderada por jovens que lutavam por direitos que deveriam garantir não só sua sobrevivência, mas a sua dignidade.
Embora seja um longa que busca abordar os conflitos ocorridos, são poucos os momentos em que aparecem sequências de luta armada, elas são mostradas apenas como flashs, e em determinados pontos se assemelham a um déjà vu. Com uma escolha de cenas bem planejadas, o foco principal se resume a traçar o caminho que levou Salomon a estar diante de um tribunal.
Justamente por evitar algo mais sanguinário é que o longa nos permite outro olhar sobre a história de vida do personagem. Kalushi era um adolescente humilde, que morava com a mãe e o irmão mais velho, e dependia de suas vendas para conseguir ajudar com as despesas de casa. De repente, após muita insistência dos colegas e da namorada, o jovem se vê totalmente impotente diante de toda a atrocidade cometida pelas autoridades.
É nesse momento que o garoto simples do vilarejo é tomado por uma sede de justiça que não diz respeito a ele necessariamente, mas àqueles a quem ama. As cenas finais resumem muito bem essa questão, que é representada por um discurso em tom destemido e emocionante, e que apesar das circunstância, ecoaria por gerações, relembrando a todos que a luta significa a liberdade de um povo cansado de ser tratado como nada.
por Victória Profirio – especial para A Toupeira