Crítica: “Guerra Civil”

Há alguns anos, a A24 vem se destacando na indústria do cinema por seguir na contramão do que o mercado hollywoodiano tem produzido, focando seus esforços em apresentar longas de caráter mais autoral, ousando em suas tramas e investindo em longas que possuem uma forte estética de filme independente.

Essas características destacaram a produtora, e hoje sua curadoria se tornou quase um sinônimo de qualidade para aqueles que buscam obras inovadoras nas salas de cinema. Até o momento, tivemos poucas escorregadas da A24, e o mais novo longa da produtora, “Guerra Civil” (Civil War), continua a manter o alto nível de suas produções.

Na trama, somos transportados para um futuro próximo alternativo em que os Estados Unidos enfrentam uma Guerra Civil que dividiu o país. Em meio a esse contexto, acompanhamos a fotógrafa Lee (Kirsten Dunst) e o jornalista Joe (Wagner Moura), que se engajam na difícil tarefa de atravessar de carro esse cenário distópico, visando conseguir uma entrevista exclusiva com o presidente, confrontando-o pelos seus atos golpistas que levaram ao cenário de calamidade que os estados americanos enfrentam.

Lee e Joe são acompanhados nessa jornada por Jessie,(Cailee Spaeny) – uma jovem fotógrafa inexperiente, que sonha em seguir os passos de Lee – e Sammy (Stephen McKinley), um jornalista veterano, que busca escrever uma matéria realmente relevante, enquanto ainda está na ativa.

Através dos olhos desses quatro personagens, podemos conhecer essa versão distorcida dos Estados Unidos. O roteiro não subestima seu público e jamais explica de forma expositiva os eventos que levaram ao quadro que presenciamos no filme. No entanto, é possível entender grande parte do contexto pelas conversas que os personagens têm entre si durante a viagem que pauta a trama.

Mesmo não ficando explícito, a narrativa claramente cria alegorias sobre figuras reais da política norte-americana, principalmente de setores que ficaram impunes após incitar um golpe interno nos Estados Unidos.

O diretor / roterista Alex Garland também não poupa críticas aos apoiadores dessa política, ao representar seus seguidores como armamentistas, intolerantes e racistas, algo que provavelmente vai gerar críticas desses setores políticos à história desse longa.

Porém, não é só por meio do roteiro que o filme busca provocar seu público. Tanto a representação dolorosamente realista da violência, quanto a sonoplastia extremamente alta – a ponto de nos transportar para o meio de uma zona de guerra – tornam “Guerra Civil” um filme para aqueles dispostos a uma experiência de tensão.

Quanto às atuações dos protagonistas, Kirsten Dunst consegue transmitir, por meio de sua apatia, toda a dor que sua personagem presenciou durante sua carreira como fotógrafa de guerras, transparecendo alguém tão quebrado quanto o país no qual se encontra.

Já Wagner Moura nos presenteia com um personagem empático, falante e até alegre, que claramente carrega uma revolta em relação aos responsáveis pela guerra, mas, ainda assim, consegue rir em meio a um mundo distópico.

Em linhas gerais, “Guerra Civil” é um excelente exercício de imaginação sobre como nossa realidade seria, se determinados eventos tivessem avançado na política real norte-americana. Com uma fotografia belíssima, atuações impecáveis, um roteiro afiado e críticas contundentes que estão presentes até em sua escolha do elenco (afinal, Wagner Moura vem de um país que presenciou eventos similares aos que levaram ao conflito do longa), com certeza toda essa ousadia não irá agradar a todos os setores políticos da sociedade civil.

Mas isso não diminui o brilhantismo do filme, nem a difícil realidade que ele empurra goela abaixo de alguns espectadores.

por Marcel Melinsk – especial para A Toupeira

*Título assistido em Cabine de Imprensa promovida pela Diamond Films.

Filed in: Cinema

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