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Crítica: “Hurry Up: Além dos Holofotes”

Servindo como complemento ao seu álbum homônimo, “Hurry Up Tomorrow” (que no Brasil ganhou o subtítulo “Além dos Holofotes”) acompanha The Weeknd, como ele mesmo, em uma jornada psicodélica que remete a grandes produções cinematográficas como “Persona” (1966, Ingmar Bergman) e “Louca Obsessão” (1992, Rob Reiner), na medida em que o cantor entra em contato com seus próprios demônios internos.

A produção não pode ser considerada um videoclipe, apesar de sequências que remetem diretamente a obras da época de ouro da MTV, e não pode ser considerada nem uma cinebiografia, nem 100% ficcional, afinal, encontra-se em um limbo, quase como um cinema verdade, no qual acompanhamos o artista em seu dia a dia, tanto no campo externo, quanto no campo de sua consciência.

A trama gira em torno de um depressivo The Weeknd, que após perder a voz em um show, algo semelhante ao que ocorreu em um show de 2022 com o verdadeiro cantor, encontra uma misteriosa e obcecada fã chamada Anima, interpretada por Jenna Ortega. Isso o faz refletir sobre sua própria carreira e sobre subtextos ocultos presentes em suas músicas, como “Blinding Lights” e outros grandes sucessos, incluídas na narrativa de diferentes maneiras, desde mais claras como a filmagem de um show, ou no terceiro ato, sendo cantadas pela atriz.

Remetendo à psicologia junguiana, Anima se refere à parte feminina da psique do homem, aquela que nos aconselha e nos guia, e é vista na produção como uma misteriosa personagem, juntamente com Lee, Barry Keoghan. Ambos podem ser compreendidos como formas da própria psique de The Weeknd, na medida em que apresenta momentos de catarse dignas das melhores sessões de terapia.

Anima e Lee são somente dois dos muitos simbolismos que estão presentes em “Hurry Up Tomorrow: Além dos Holofotes”. Há desde momentos marcantes da vida do cantor, até referências a projetos da sua vida, com direito a uma piada com a série “The Idol” (2023, Sam Levinson), e análises de suas músicas, feitas por ele. Porém, nem mesmo estas questões, seguram o fato que apesar The Weeknd interpretar a si próprio, ele ainda não consegue manter um nível de atuação decente, levando a incomodar em certos momentos.

Com 1h45 de duração, o longa se baseia em uma experiência sensorial, fazendo desde uso de luzes abstratas, até a gravação de um show que remete muito ao espetáculo feito ano passado em São Paulo. Também inclui a utilização de diversas técnicas estilísticas em quesito de direção de fotografia, como a mudança de janela de projeção, a alteração de foco, planos sequências, enquadramentos variados e a filmagem em 35 mm, trazendo mais vida para uma iluminação vibrante que acompanha seus personagens, principalmente da cor vermelha, branca e laranja, durante o seu terceiro ato.

Para os fãs, é um presente que permite entrar na intimidade de seu ídolo, oferecendo um assento de primeira fileira para uma possível mudança futura, e uma transição na própria carreira de The Weeknd, apresentando um fechamento de ciclo, e início de algo novo.

Para os leigos, “Hurry Up Tomorrow: Além dos Holofotes” pode não falar tão forte em seus corações, porém, o espetáculo visual abre possibilidades de compreensão e deslumbramento que entretém pela narrativa experimental e ficcional. O que pode ocasionar reflexões, e talvez atrair novos fãs para o cantor, afinal, o filme também é um grande comercial e ode à música de um dos maiores cantores da atualidade, algo que não é ocultado de forma nenhuma.

por André Sanchez – especial para A Toupeira

Título assistido em Cabine de Imprensa promovida pela Paris Filmes.

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