Quando se pensa em estabelecimento de regras e um nível de lealdade que beira a devoção cega, seria de se imaginar que o assunto abordado traria à tona fatos sobre alguma instituição que trabalha à luz da justiça, igualdade e dentro do que preveem os efeitos genéricos da lei. Não é este o caso.
Na franquia de ação protagonizada por Keanu Reeves, que chega à terceira parte com a estreia de “John Wick 3 – Parabellum”, são os criminosos que ditam as regras e que se veem no direito de exterminar – literalmente falando – quem não as cumpre. A chamada Alta Cúpula exige fidelidade de seus membros que, entre outros deveres, precisam se lembrar do ambiente “consagrado” do Hotel Continental (que abriga toda a sorte de foras da lei) e que, em seu interior nenhum crime pode ser cometido.
Por descumprir essa regra primordial no longa anterior, John Wick passa a ser visto como uma valiosa caça que pode render US$ 14 milhões a quem o capturar. Antes de ter seu contrato invalidado com os chefes do crime e tornar-se um alvo ambulante, ele tem uma hora (conseguida de forma irregular por Winston, papel de Ian McShane, gerente do hotel) para tentar arquitetar um plano que o mantenha vivo, pelo menos até que consiga chegar a supostas figuras ainda mais influentes que revalidarão sua posição segura.
É nesse ritmo frenético que o roteiro de Derek Kolstad e Marc Abrams se equilibra durante todas a duração do longa. Entre cenas de luta impressionantes e a inserção de personagens tão interessantes quanto pertinentes (Sofia, interpretada por Halle Barry e a Diretora vivida por Anjelica Huston), com quem tem John uma história pregressa, a trama também ganha em expansão cenográfica, com locações internas e externas muito funcionais.
Parece improvável que um filme de ação tenha conseguido gerar continuações tão impactantes, mas, aparentemente, a franquia iniciada em 2014 com “De Volta ao Jogo” encontrou uma fórmula eficaz para prender a atenção do público, unindo a ação propriamente dita e uma história que merece ser assistida.
Ao contar com uma boa narrativa, o filme dirigido por Chad Stalhelski (que também esteve à frente da direção dos dois capítulos anteriores da saga – o primeiro dividindo o trabalho com David Leitch) facilita a vida do espectador em entender como se sentir em relação a John Wick. Nós o vemos matar pessoas das formas mais distintas e, ainda assim, é possível encontrar brechas para defender suas atitudes e mantê-lo fora do alcance do estigma de vilão.
Tal fato é visto inclusive durante a própria história, quando opositores do personagem se declaram grandes fãs de seu trabalho e até mesmo honrados em ter chance de estar em uma batalha direta com ele, ainda que tenham plena consciência de sua ineficácia, por melhores combatentes que sejam.
Com uma popularidade estável e crescente, não chega a ser surpresa que o (ótimo) final mostre a clara intenção em se produzir um quarto capítulo. Com “Parabellum”, mais do que preparar-se para a guerra, o público pode esperar para acompanhar a muito provável continuidade de uma das melhores e mais competentes histórias do gênero de ação vista nos últimos anos nas telonas.
Vale a pena conferir.
por Angela Debellis