You are here: Home // Cinema // Crítica: “June & John”

Crítica: “June & John”

Segundo a Lei de Murphy, “Se alguma coisa pode dar errado, certamente dará”. Essa parece ser uma máxima aplicável à vida de John Riley (Luke Staton Eddy), cuja rotina sem graça – resumida a trabalhar na área de contabilidade em um Banco e cumprir deveres automáticos – é sacudida após  uma série de eventos desfavoráveis.

Sem expectativa de enxergar alguma luz no fim do túnel, mas oscilando entre o conformismo e lampejos de lucidez, o jovem vê tudo mudar repentinamente ao avistar uma garota de cabelos coloridos através da janela de um vagão de metrô.

Esse é o ponto que o leva a procurar a misteriosa figura, de quem sabe apenas o primeiro nome, June (Matilda Price), no Instagram. Uma missão que parece – e talvez de fato seja – absurda (contando com inúmeros fatores que poderiam impedir seu sucesso), mas que se mostra frutífera, apesar de tudo.

Da descoberta virtual, ao primeiro encontro físico – que culmina em um assalto ao trabalho de John e uma fuga pelas estradas do país – os acontecimentos vindouros ocorrem de maneira rápida – até porque, segundo a protagonista, ela conta com apenas 72 horas de vida (informação tirada de um sonho, mas que tem a profundidade exposta conforme a narrativa avança).

Dando forma à premissa de que os opostos se atraem, o agora casal (formado de maneira relâmpago) dá a confortável sensação de realmente ter o que acrescentar na vida um do outro. Ambos são, de seu jeito, completos, mas tornam-se ainda melhores a partir dessa inusitada união. E isso transborda em tela, por meio de clichês que lembram bons títulos dos anos 1990.

John é monocromático, “anda na linha”, segue regras exageradas, tem ciência de sua pequenez diante do universo (mas, secretamente, deseja ser reconhecido). June é multicolorida, tem uma aura otimista que anda de mãos dadas com o exagero na maior parte do tempo (ou talvez seja apenas uma visão  incompreendida de sua personalidade).

A dicotomia permeia quase toda a narrativa escrita e dirigida por Luc Besson, durante a pandemia de Covid-19, e filmada inteiramente por smartphones. Tal recurso nos transforma em reais espectadores do relacionamento dos personagens, já que há uma espécie de proximidade causada pelo estilo de imagens.

Nem tudo são flores durante o tempo limitado imposto pelo roteiro. Entre os muitos sorrisos e devaneios de June, também há espaço para dor e questionamentos sobre a justiça da vida. Entre as revelações psicodélicas de John, ainda existem áreas de cinza que o trazem de volta a uma realidade que nem sempre é matizada com os tons que gostaríamos.

A história de “June & John” é mais do que um drama romântico (ou um romance dramático). É um convite a nos lembrarmos de que a felicidade plena talvez seja inalcançável, mas que momentos felizes (mesmo quando fugazes) são tão válidos quanto.

por Angela Debellis

*Título assistido em Cabine de Imprensa promovida pela Diamond Films.

comment closed

Copyright © - 2008 A Toupeira. Todos os direitos reservados.