Ao se falar sobre os trabalhos de Darren Aronofsky, muitas palavras – algumas pouco usuais – vêm à cabeça para ilustrá-los. Com uma autoestima invejável e a segurança de que manter-se autoral é ter uma base sólida o bastante para sustentar sua personalidade distinta na indústria cinematográfica, o diretor apresenta mais uma obra com a capacidade de dividir a opinião do público.
“Mãe!” (Mother!) é, no mínimo, surpreendente e, como o próprio diretor declarou em recente Coletiva de Imprensa, um produto difícil de vender. Mas, uma vez que se embarca na montanha russa de sensações que a obra propõe, e na beleza visual que oferece, formular uma opinião sobre ela torna-se menos complicado.
O roteiro – também de autoria de Darren – mostra a história de Mãe (Jennifer Lawrence) e Ele (Javier Bardem), casal que vive em uma casa de estilo vitoriano em época indefinida, mas cujos detalhes como os móveis, a falta de itens de tecnologia atual e até mesmo o rótulo de um vidro de remédio, nos fazem crer em um primeiro instante, tratar-se de uma trama transcorrida em anos passados – ideia quebrada no instante em que um celular é utilizado em cena por outro personagem. Ou seja: não dá para dimensionar com exatidão nem mesmo em que período tudo acontece.
A aparente calmaria – disfarçada pela monotonia que implica a esposa cuidando incessantemente da casa e o marido em busca de inspiração para voltar a ser produtivo em seu trabalho – acaba com a inesperada chegada de Homem (Ed Harris), um estranho e invasivo hóspede, cuja presença serve para mostrar o quão frágil é a relação entre os protagonistas.
A aparição de sua esposa, Mulher (Michelle Pfeiffer) e a rápida, porém marcante passagem de Filho Mais Velho (Domhnall Gleeson) e Irmão Mais Novo (Brian Gleeson), são as primeiras peças em um estranho quebra-cabeças que envolverá um legião de fanáticos, o egocentrismo descontrolado de um artista e, é claro, a explosão de sentimentos e bravura que a maternidade parece capaz de gerar. Em uma das melhores cenas, fica muito clara a interpretação para o ponto de exclamação usado no título do filme.
A tentativa de explicar mais gera o risco de estragar a experiência que se pode ter ao assistir à produção. Chega a ser estranho imaginar a quantidade de possibilidades para se enxergar a mensagem passada pela narrativa. E acredite: de acordo com a forma de pensar, cada pequeno detalhe fará sentido de uma maneira – inclusive a inicialmente estranha opção por não dar nomes aos personagens.
Talvez a bagagem emocional de cada um acabe sendo o ponto de partida para a visão pela qual a plateia conseguirá acompanhar os fatos. Seja através do cunho religioso, político, ou simplesmente poético, uma coisa parece certa: “Mãe!” será tema de altos debates – para o bem ou para o mal – entre os espectadores que forem ao cinema.
Vale conferir.
por Angela Debellis