Crítica: “Mulher-Maravilha”

75 anos após sua primeira aparição no papel e apesar da óbvia importância quando o assunto são as HQ’s de heróis, a Mulher-Maravilha nunca figurou entre os meus favoritos (pelo menos até agora). Meu maior contato com ela foi nos idos de 1970, quando me acostumei a associar seu rosto ao da atriz Lynda Carter, protagonista de uma série televisiva de bastante sucesso sobre a personagem.

Quando Gal Gadot foi anunciada como a nova face da heroína nas telonas, não foi com o coração aberto que recebi a notícia, mas tal desconfiança foi aplainada de maneira bastante satisfatória após acompanhar sua aparição inicial em “Batman vs Superman: A Origem da Justiça”.

Com a chegada de “Mulher-Maravilha” (Wonder Woman) aos cinemas, Gal escreve seu nome em definitivo na história das adaptações de quadrinhos. Com carisma de sobra, a atriz israelense consegue segurar o ritmo da história dirigida por Patty Jenkins por todos os 141 minutos de projeção.

Como bom filme que tem como base o início de uma trajetória, este nos apresenta detalhes sobre a vida da protagonista da ação. Diana Prince, filha do todo poderoso Zeus e de Hipólita (Connie Nielsen) – Rainha das Amazonas, vive em Temíscira ou “Ilha Paraíso” – local magnífico e isolado do resto do mundo -, e mostra desde a infância habilidades como guerreira, numa passagem de anos que acompanha seu aperfeiçoamento em batalhas orquestradas por sua tia Antíope (Robin Wright).

Sua vida será mudada radicalmente ao salvar o espião britânico Steve Trevor (Chris Pine), após um acidente de avião que o faz parar em águas próximas à ilha. É o primeiro contato de Diana com um homem e a primeira oportunidade de mostrar sua real preocupação com o bem-estar do próximo – não importando sua raça, gênero, espécie, aparência ou qualquer outra designação que pudesse fazê-lo parecer diferente de si própria.

Criada com a consciência de que Ares (o Deus da Guerra) poderia atacar a qualquer momento, a heroína crê que esse retorno aconteceu no mundo exterior, causando a Primeira Guerra Mundial, e que cabe a ela encontrar e acabar com o vilão. Este é o ponto de partida para sua chegada – e consequente permanência – em fronteiras além daquelas por ela já conhecidas.

São muitos os pontos positivos: a inocência na medida certa de Diana e a sabedoria em não transformá-la em alguém caricato; a eficiência das cenas de ação (com direito à espada, escudo, Laço da Verdade e braceletes à prova de balas); a evolução natural e fluída de seu relacionamento com Steve, além da inclusão de competentes coadjuvantes como Etta Candy (Lucy Davis) – fundamental na representação de como as mulheres eram tratadas (e todas suas limitações), na sociedade da época.

Em um cenário caótico como só ambientes de guerra são capazes de causar, os vilões “físicos”, Doutora Veneno (Elena Anaya) e General Ludendorff (Danny Huston), parecem parcialmente deslocados – o que não chega a tirar por completo seu mérito na tela. Se pensarmos bem, diante do horror de um evento que coloca humanos contra humanos, qualquer antagonista acaba por parecer minimizado. Vale dizer que a “reviravolta” final transita entre o necessário e o descartável, mas no geral, acrescenta sentido à parte da proposta.

Rotular o filme – seja através de qualquer posicionamento –, assim como fazer comparações com outras produções anteriores (ou vindouras), seria diminuir a eficácia de algo que chega com a promessa de marcar história – e faz isso maravilhosamente bem.

Imperdível.

por Angela Debellis

Filed in: Cinema

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