Crítica: “O Assassino”

Baseado na minissérie em quadrinhos francesa homônima escrita por Alexis “Matz” Nolente e desenhada por Luc Jacamon (lançada em 1988), e depois de muitos anos do anúncio de sua feitura, “O Assassino” (The Killer) é o mais recente trabalho do diretor David Fincher, que chega aos cinemas em curtíssima temporada, antes de sua inserção no catálogo da Netflix em 10 de novembro.

No longa – que preza pelo eficiente recurso da narração durante grande parte dos seus 118 minutos de duração – acompanhamos a rotina tediosa e baseada em rigorosas regras físicas e mentais do assassino do título (Michael Fassbender, ótimo), que, embora ostente várias identidades no decorrer da história, nunca tem seu nome verdadeiro revelado.

Ao classificar a si mesmo como não sendo excepcional, apenas “diferente”, o protagonista dá ao público a chance de enxergá-lo de uma maneira que parece pouco usual quando se trata de uma figura cuja atividade profissional é eliminar alvos (entenda-se matar pessoas).

Dividido em capítulos – artifício que sempre me agrada -, o roteiro de Andrew Kevin Walker não se preocupa em oferecer grandes cenas de ação (com exceção de uma extensa e bem coreografada briga), nem mesmo sequências com grandes impactos visuais. Ainda assim (e talvez, justamente por isso), consegue prender a atenção do público de maneira visceral, do início ao fim.

A trama gira em torno da falha na execução de um serviço, o que leva o Assassino (que declara ser um estudante de direito que desistiu da carreira, para contornar a lei) a ter que arcar com as consequências – que, obviamente, não são das mais agradáveis. A partir desse ponto, uma intrincada rede vai se formando através da aparição de diversos envolvidos no esquema.

As ligações desses personagens, o quanto suas posições na sociedade avalizam atitudes condenáveis no âmbito geral, tudo parece convergir para que haja a percepção de que, no final das contas, a vida humana (ou pelo menos a da maioria dos indivíduos) vale muito menos do que podemos supor.

Mesmo sendo uma produção interessantíssima, o caminho trilhado por “O Assassino” para ganhar o grande público não deve ser fácil, pelo simples fato de ir na contramão do que as grandes bilheterias (em sua maioria) impõem nos dias atuais, em especial, no que diz respeito ao ritmo. A boa notícia é que, aqueles que decidirem embarcar nessa jornada, terão, no mínimo, uma experiência surpreendente, no melhor sentido da palavra.

Embalada pela boa trilha sonora de Trent Reznor e Atticus Ross, a obra ainda conta com trechos de diversos sucessos da banda britânica The Smiths, onipresente nos fones do protagonista, seja enquanto aguarda o momento de desferir um tiro fatal ou quando pega a estrada para encontrar mais um dos elementos que tiveram a pouca sorte de estar entre seus desafetos.

Some a tudo isso, a participação da excepcional Tilda Swinton (no papel de outra assassina sem nome, conhecida apenas como “A Especialista”, e, como sempre, dando um show em cena). E a de Sophie Charlotte (intérprete de Magdala) que, embora bastante rápida, mostra a qualidade do trabalho da atriz.

Há um questionamento muito pertinente, feito durante o filme, o qual acredito também ser válido como reflexão: “Aqueles que costumam colocar sua fé na bondade inerente da humanidade, me respondam: Em que se baseiam?”.

por Angela Debellis

*Título assistido em Cabine de Imprensa promovida pela O2 Play Filmes.

Filed in: Cinema

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