Se atualmente ainda encontramos dificuldades em abordar questões de gênero, imagine no início dos anos de 1990, onde sentir atração por pessoas do mesmo sexo era considerado distúrbio psicológico. E este é o tema da narrativa “O Mau Exemplo de Cameron Post” (The Miseducation of Cameron Post), inspirado no livro de Emily M. Danforth.
O longa dirigido por Desiree Akhavan conta a história de Cameron (interpretada por Chloë Grace Moretz), uma adolescente que após ser pega – pelo próprio namorado – aos beijos com outra garota, tem sua orientação sexual exposta a sua família, que neste caso é composta apenas por sua tia Ruth (Kerry Butler).
Então, a garota é mandada para a Promessa de Deus, uma espécie de “clínica de reabilitação”, onde encontra vários jovens na mesma situação que ela. O local é comandado por um religioso, ex-gay, que foi “salvo” pela fé, e pela Dra. Lydia (Jennifer Ehle), que atribui a homossexualidade a traumas do passado e hábitos do presente que devem ser mudados.
Como o propósito da instituição é a cura por meio do fortalecimento espiritual, os adolescentes participam de grupos de apoio, cantam louvores, leem a bíblia e oram. São privados de contato com mundo externo e constantemente submetidos a torturas psicológicas. São orientados a vasculhar suas memórias para localizarem o que desencadeou o comportamento que os levou até ali.
Não é a primeira vez que Akhavan conta histórias de mulheres lésbicas: a diretora e atriz já produziu, por exemplo, o documentário “Sapatão, câmera e ação”, entre outros filmes e séries que têm como foco principal o papel da mulher na sociedade.
Como ocorre em algumas das adaptações de livros para o cinema, alguns personagens que para os leitores são fundamentais para o desenvolvimento da narrativa, acabam esquecidos. Neste caso, a avó de Cameron e a melhor amiga da infância com quem a garota descobriu o desejo por mulheres não são citadas em momento algum.
A atuação de Chloë Grace Moretz deixa a desejar em vários aspectos: a atriz que já protagonizou filmes como “A 5ª Onda” e “Kick Ass” não transmite a emoção que esperamos de uma adolescente que está longe de tudo que conhece, tentando se encontrar e sendo pressionada a revelar sua vida a estranhos.
Algo que chega a me incomodar no início, é o figurino. O filme se passa em 1993, imaginamos visuais que caracterizem a década de 1990, cabelos estilosos, calças rasgadas, algo meio grunge, e essa expectativa não é correspondida.
A adaptação tem um tema interessante, contudo não explora os personagens profundamente, não inova e não aborda que já é existente corretamente. Não é preciso procurar muito para encontrar casos dolorosos envolvendo locais como a “Promessa de Deus”, talvez tenha faltado preparação e um pouco de ousadia.
por Carla Mendes – especial para A Toupeira